O governo de Barack Obama vai enfrentar seu primeiro teste nas urnas no próximo dia 2. Por mais que o cargo do presidente não esteja em disputa, está muito claro que o resultado pode ser determinante para a disputa de 2012. Muito mais preocupante que a aprovação ou não da atual administração é notar que os americanos entraram de cabeça no discurso maniqueísta e manipulador do movimento Tea Party (para uma visão mais ampla deste assunto, clique aqui).
Em primeiro lugar, como de costume, os radicais fazem de tudo para desmerecer os ganhos promovidos pela gestão democrata. Por exemplo, quando analisam as taxas de desemprego e de crescimento econômico, esquecem de mencionar que a recepção a Barack Obama na Casa Branca contou com a calorosa presença da maior crise dos últimos 80 anos. E aí é curioso perceber que, por mais que os membros do Tea Party exijam a redução do papel governamental, eles culpam as políticas de Washington pela falta de empregos. É contraditório, mas e daí?
Obama tem méritos. Não se pode ignorar que, hoje, o presidente está a ponto de tornar real o acesso de toda a população americana à cobertura médica. Não é pouco. Além disso, como lembra David Leonhardt, do New York Times, a administração atual tem conseguido regulamentar a atuação das empresas em Wall Street. Ainda há muito a ser feito, mas gerenciar a maior potência do planeta, envolvida em duas guerras simultâneas e no "day after" da grande crise mundial, não é tarefa fácil.
As eleições do dia 2 estão polarizadas entre duas visões distintas. O Tea Party representa o que há de mais retrógrado. Alguns exemplos do que pensam seus representantes: Joe Miller, que concorre ao Senado, se opõe à realização de eleições diretas para a Casa, pretende privatizar o Seguro Social, e luta contra a legalização do aborto, mesmo quando diz respeito a casos de estupro ou incesto. Sharron Angle, que também briga por uma vaga no Senado, quer eliminar o Departamento de Educação (informações da revista The Nation).
É um tanto assustador imaginar que as duas casas legislativas americanas podem contar com representantes que pensam sob um prisma tão conservador, na definição mais amena possível. Mas o discurso desta "alternativa" proposta pelo Tea Party encontra muitos discípulos. Segundo pesquisa recente da rede de TV CNN, 50% dos eleitores estão dispostos a escolher um candidato apoiado pelo movimento. E, mais preocupante, 75% acreditam que ele deve exercer indefinidamente um papel ativo na política do país.
A adesão popular foi alcançada graças a três pontos fundamentais muito sedutores: há impostos demais, empregos de menos e "está tudo errado, ninguém presta". Alguém se lembra do movimento "Cansei", criado em 2007 e que tinha como adeptos Ana Maria Braga, Vitor Fasano, Boris Casoy, Paulo Vilhena, Tom Cavalcante e Gabriel Chalita? Pois é. O Tea Party é muito mais, muito embora tenha nascido a partir de alguns aspectos deste discurso reducionista que também encontrou adeptos por aqui.
Nos EUA, no entanto, o grupo tem mostrado poder político muito maior. Mas é possível que sofra um revés político, na medida em que fica cada vez mais claro que de popular ou genuíno há muito pouco. Por trás do Tea Party estão os irmãos David e Charles Koch, megaempresários e maiores financiadores dos participantes da festa do chá.
As Indústrias Koch representam o segundo maior grupo privado americano. Dentre suas muitas empresas, há refinarias de petróleo, fornecedores de carvão e instalações químicas. Como os negócios são obrigados a pagar inúmeras multas por conta de acidentes e despejo de detritos químicos, nada melhor do que encontrar milhões de americanos insatisfeitos e dispostos a brigar pela redução de taxas, impostos e que se recusam a considerar a legalidade em torno da discussão sobre questões ambientais. Faz sentido agora?
É tudo isso que está em jogo nas eleições do próximo dia 2. Aliás, esta é apenas uma parte dos muitos riscos políticos que o planeta enfrenta. Uma ampla vitória republicana - e dos membros do Tea Party, em particular - pode levar a maior potência do mundo a um retrocesso cujas perdas são incalculáveis.
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