Seria um tanto estapafúrdio de minha parte forçar a barra e buscar elementos geopolíticos no casamento real britânico. A festa toda foi muito bonita, os corações mais sensíveis viveram momentos mágicos (adjetivo especial do dia) e nenhum Shrek apareceu para puxar Kate pelos cabelos e levá-la para Tão, Tão Distante. Mas se garimpar sinais estratégicos no evento é mero exercício de especulação vazia, o amor do casal do ano e tudo que envolve tal evento merece um exame com olhar mais político.
O Reino Unido recebeu uma injeção de ânimo. E quando digo isso não me refiro somente à excitação popular nas ruas, mas ao próprio conceito de Reino Unido. Bandeiras de Escócia e Irlanda, cujos movimentos separatistas são bastante ativos, estavam presentes à festa, numa espécie de chancela voluntária e popular de união sob a coroa britânica. Sem entrar no mérito dos argumentos, o amor de Kate e William quebra paradigmas políticos de alguns.
Se o Império Britânico existe apenas nos livros de história, nunca é demais lembrar que a Commonwealth ainda é uma realidade. Composta por 55 países, 53 de seus membros têm laços históricos com o Reino Unido, sendo que 15 deles – ainda hoje – têm como chefe de Estado ninguém menos que Sua Majestade, a Rainha. Por mais que haja um mantra quanto ao vazio de poder da família real, não é fácil encontrar por aí uma Rainha chefe de 15 países (por mais que seu poder seja simbólico, como cansaram de repetir os porta-vozes oficiais de lugar-comum).
Para completar, uma conjunção de acontecimentos reafirma o poder da monarquia – por mais que comentaristas britânicos tentem negar isso. Como sempre escrevo, vale a percepção. E, neste caso, a percepção vem acompanhada de evidências. O maior evento da realeza desde o casamento de Diana e Charles, em 1981, acontece justamente durante o período de maior crise econômica na Grã-Bretanha. A festa de Kate e William provocou aumento de 40% nas vendas e 107 milhões de libras em gastos de visitantes.
O bom momento da monarquia é acompanhado do péssimo momento do governo conduzido pelo primeiro-ministro David Cameron. Em novembro do ano passado, ele anunciou o maior pacote de austeridade do pós-guerra. Na prática, o termo austeridade é usado para dourar a pílula de medidas que, no fim das contas, só prejudicam a população comum: são previstos cortes de 490 mil empregos públicos e redução do orçamento em quase um quinto até 2015.
Na realidade, existe uma mensagem subliminar em tudo isso. O parlamentarismo, hoje, é o porta-voz das más notícias, da gestão que prejudica as pessoas; a monarquia enche as ruas, injeta dinheiro na economia e, principalmente, concretiza o imaginário coletivo de sonhos. Está muito claro qual discurso é o vencedor. Mesmo que esta disputa seja mero fruto da circunstância.
Vale mencionar também que o grande show que se viu nas ruas de Londres foi, além de uma celebração ao “amor”, uma parada patriótica. Aviões de combate que ajudaram a derrotar as forças nazistas na Segunda Guerra Mundial sobrevoando a realeza. Existe algo capaz de reforçar com tanta propriedade a identidade nacional britânica?
Para completar, uma conjunção de acontecimentos reafirma o poder da monarquia – por mais que comentaristas britânicos tentem negar isso. Como sempre escrevo, vale a percepção. E, neste caso, a percepção vem acompanhada de evidências. O maior evento da realeza desde o casamento de Diana e Charles, em 1981, acontece justamente durante o período de maior crise econômica na Grã-Bretanha. A festa de Kate e William provocou aumento de 40% nas vendas e 107 milhões de libras em gastos de visitantes.
O bom momento da monarquia é acompanhado do péssimo momento do governo conduzido pelo primeiro-ministro David Cameron. Em novembro do ano passado, ele anunciou o maior pacote de austeridade do pós-guerra. Na prática, o termo austeridade é usado para dourar a pílula de medidas que, no fim das contas, só prejudicam a população comum: são previstos cortes de 490 mil empregos públicos e redução do orçamento em quase um quinto até 2015.
Na realidade, existe uma mensagem subliminar em tudo isso. O parlamentarismo, hoje, é o porta-voz das más notícias, da gestão que prejudica as pessoas; a monarquia enche as ruas, injeta dinheiro na economia e, principalmente, concretiza o imaginário coletivo de sonhos. Está muito claro qual discurso é o vencedor. Mesmo que esta disputa seja mero fruto da circunstância.