Acho difícil negar o que vem se tornando óbvio nos últimos tempos: o WikiLeaks, organização privada de Julian Assange cujo objetivo é divulgar documentos secretos governamentais, mudou o cenário político internacional. Além desta conclusão que não é nada precipitada por mais que os eventos tenham se acelerado bastante, vale dizer que os EUA são o principal alvo de Assange. E não apenas por conta das ideologias do criador do site, mas também porque na condição de maior potência planetária é até natural que o país esteja mais suscetível aos vazamentos. Como Washington está no centro de todas as grandes decisões mundiais, a extensão de seu telhado de vidro é compatível com sua atuação internacional.
Agora, o WikiLeaks apresenta sua mais nova descoberta: 700 documentos militares confidenciais sobre a prisão americana de Guantánamo, em Cuba. Há muito material interessante que superexpõe a administração americana do centro de detenção que, após os atentados de 2001, se transformou em símbolo da guerra americana ao terror, por um lado, e dos equívocos práticos e teóricos que se seguiram a tal empreitada, por outro.
Os documentos divulgados aos principais jornais do mundo comprovam não apenas as complexidades de Guantánamo, mas também as dificuldades encontradas pelo Ocidente (e particularmente pelos EUA, claro) para entender a geopolítica posterior ao 11 de Setembro. O papel da Casa Branca ainda é intrinsecamente contraditório: se foi convocada a protagonizar esta batalha – porque o território americano foi o alvo primário desta oposição –, também é confuso, na medida em que continua a tatear no escuro.
Por conta desta incongruência – e considero esta uma das características mais simbólicas do período atual –, os documentos vazados pelo WikiLeaks acabam por ilustrar dois presidentes (Bush e Obama) à frente de um país em busca de respostas, à procura de uma nova estratégia internacional diante de um cenário completamente desconhecido e novo e, muito importante no caso de Guantánamo, obstinado por preencher a ânsia doméstica por uma espécie de vingança.
Mas se há uma característica comum a Bush e Obama é a incapacidade de estabelecer objetivos internacionais claros. Escrevi bastante sobre o equívoco inicial da ofensiva à Líbia: não determinar o que deveria ser considerado como vitória. Na guerra ao terror iniciada por Bush, o raciocínio é o mesmo. Simplesmente, ela não tem fim. Capturar ou matar Bin Laden, derrotar o Talibã no Afeganistão, prender todos os terroristas da al-Qaeda seriam suficientes para dar ponto final à ameaça contra cidadãos americanos ou mesmo evitar ataques aos EUA? Certamente não. Esta é uma questão que está na raiz da existência da prisão de Guantánamo e do que se passa por lá.
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