Se a situação na Síria já estava ruim, agora deve piorar ainda mais. Segundo documentos repassados pelo WikiLeaks ao Washington Post e publicados pelo jornal americano, os EUA têm ajudado financeiramente a oposição a Bashar al-Assad. As informações revelam um suposto repasse de seis milhões de dólares a um movimento sírio favorável à democracia. As novidades não terminam por aí. Segundo os documentos, esta prática foi iniciada durante o governo Bush e mantida pelo presidente Obama. Há algumas leituras necessárias sobre isso.
Todo mundo conhecia a política externa de Bush. Não chega a ser uma surpresa que ele tenha financiado grupos adversários a Assad. O caso de Obama é diferente. Washington tentava uma aproximação com Damasco, tendo inclusive tomado passos práticos, como a reabertura da embaixada americana no país (fechada há cinco anos). Assim, por mais que o comentário da secretária Hillary Clinton após as primeiras manifestações populares na Síria (quando classificou Assad como um “reformista”) tenha repercutido mal, havia alguma coerência na política externa dos EUA: a Síria estava nos planos.
E isso fazia sentido. Como costumo escrever, aproximar a Síria do Ocidente era aplicar um golpe de difícil assimilação à aliança xiita liderada pelo Irã. Agora fica claro que Obama trabalhava com dois cenários simultâneos. Talvez por saber que não podia confiar nas intenções de Assad. E ao mirar num dos lados, acabou por acertar outro: as recentes derrubadas dos governos de Tunísia e Egito expuseram um erro grave da estratégia americana. Nesses dois casos, os EUA se viram entregues ao rumo dos acontecimentos e completamente perdidos no processo de reformulação dos países porque passaram 30 anos absolutamente fiéis a regimes autoritários. Erraram feio ao imaginar que a situação duraria para sempre. Quando as lideranças dos dois países foram depostas, Washington estava sem ninguém.
Ao financiar alguma oposição síria, a Casa Branca ao menos garante acesso num eventual novo cenário no país. Por querer ou por acaso, é uma estratégia que tenta evitar a repetição de erros cometidos. O problema é que a divulgação desta ajuda americana pode comprometer a espontaneidade do processo. Certamente, Assad irá reforçar o discurso de conspiração estrangeira. Certamente, os aliados xiitas farão o mesmo. Além disso, fica a comprovação de que, mais uma vez, o WikiLeaks é um ator de influência geopolítica que não precisa disparar uma bala sequer para mudar o curso da história.
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