Parece que o imaginário coletivo da humanidade finalmente reconheceu que a política externa da França mudou. Já havia escrito sobre isso na semana passada. Exatamente sete dias atrás, considerava óbvios os sinais enviados por Paris sobre suas intenções internacionais. Para ficar claro: há algumas boas evidências para acreditar que o país está em busca da construção de novos paradigmas, mas ainda é uma incógnita o que pretende fazer com isso.
As atitudes francesas recentes são suficientes para apontar mudanças: os quatro mil soldados que permanecem no Afeganistão, a rapidez com que o governo francês agiu ao se colocar a favor da intervenção na Líbia, o fato de um caça de sua força aérea ter dado início aos ataques contra o regime de Khdafi, a bem-sucedida ação na Costa do Marfim e, para completar, a instituição da lei que impede o uso do véu facial islâmico em público. Certamente, esta última decisão é a mais polêmica dentre as distintas novas diretrizes de Paris.
Diante de tantas evidências, fica difícil não inseri-la num contexto político mais amplo. E digo isso porque, mesmo que não seja parte do novo “livro geopolítico” que Sarkozy tenha decidido aplicar, continuo a afirmar uma certeza particular que repito por aqui com alguma frequência: a percepção vale mais do que a intenção. E não tenham dúvidas quanto as interpretações que os muitos atores envolvidos irão fazer a partir da decisão francesa. Há muita gente disposta a se posicionar sobre isso: os Estados islâmicos, os grupos fundamentalistas islâmicos, as minorias islâmicas europeias e, principalmente, os países europeus que discutem o assunto.
Sarzoky comprou uma briga séria. Basta lembrar o episódio do jornal dinamarquês que publicou charges com a imagem de Maomé, em 2005. Até hoje, a publicação recebe ameaças de grupos fundamentalistas islâmicos.
É impossível prever como esta situação vai transcorrer. Antes de opinar quanto à decisão de Sarkozy, acho válido tentar entender como ela se insere nesta nova diretriz internacional do país. O novo modelo de atuação francesa ainda é muito recente. Como escrevi, não apenas recente, mas muito movimentado. Há muitas hipóteses quanto aos interesses de Sarozky: aumentar popularidade, frear o crescimento da extrema-direita francesa, ser protagonista dos principais palcos geopolíticos etc.
Pode ser tudo isso. E, de fato, a lei que proíbe o véu recebe apoio da maior parte da população e inclusive de partidos de todo o espectro político. Além disso, minimiza a memória recente quanto à passividade diante das manifestações populares contra os regimes de Tunísia e Egito. De qualquer maneira, fica claro que, a partir de agora, a França decidiu se tornar um ator completamente independente. Esta é a mensagem mais importante de todo este movimento.
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