Chegou a hora da decisão na Líbia. Ao contrário do que se supunha, o exército de Khadafi não é tão fraco assim. Ao mesmo tempo, a Otan não dispõe dos meios necessários para derrotar as forças leais ao ditador. Para complicar ainda mais, o número de mortos no conflito já passa de dez mil. Há também 55 mil feridos. Ou seja, será preciso se expor mais de forma a reverter o quadro. E a exposição certamente provocará mais mortes. O fator político tampouco contribuiu: enquanto Reino Unido e França lutam por mais sanções, China, Rússia e Índia fazem o que podem para impedir que elas sejam implementadas.
Erros importantes foram cometidos desde o início da ofensiva, há um mês. O primeiro deles foi não definir o que representaria uma vitória na Líbia; derrubar Khadafi? Outorgar o poder aos desconhecidos rebeldes? Forçar Khadafi a promover algum tipo de democracia?
Outro ponto muito importante: os EUA capitanearam uma guerra meia-bomba (com o perdão do trocadilho). Conseguiram a aprovação da resolução na ONU, argumentaram que não se poderia assistir ao banho de sangue de civis sem qualquer tipo de reação e conseguiram forjar uma aliança internacional de forma a proteger os cidadãos líbios da fúria de seu presidente. Esta justa premissa repete, na prática, o grande problema da operação na Líbia: “proteger civis” é uma expressão vaga e remete à questão inicial: é possível proteger civis sem derrubar o regime?
Ninguém admite isso, mas a estratégia na Líbia é simplista: esporádicos ataques aéreos de alguns membros da Otan sobre estruturas militares de Khadafi. Os comandantes militares à frente da operação e os líderes políticos que defenderam a ofensiva alimentavam a esperança de que este tipo de ação fosse suficiente para provocar a rendição do líder líbio. E como percepção vale mais que realidade, nenhum dos países envolvidos levou muito a sério a necessidade de, diante desta limitação logística, oferecer a Khadafi alguma alternativa – leia-se, asilo e liberação de ao menos parte de seus bens.
Mas a coalizão internacional não admite perder nada. Não quer se expor numa guerra de verdade – em que lideranças ocidentais enfrentariam problemas políticos domésticos, uma vez que precisariam justificar gastos e eventuais mortes de seus soldados numa nova aventura militar no Oriente Médio –, mas tampouco está disposta a negociar com o controverso Khadafi, uma vez que os rebeldes já deixaram claro que este não é o cenário que imaginam. E esta possibilidade constrangeria os governos de EUA e de países europeus que não poderiam negar que mantiveram algum contato com o ditador e acabaram cedendo a parte de suas demandas.
A realidade mostra que não existe negociação sem algum tipo de derrota. A não ser no caso de uma guerra aberta, situação que os aliados não parecem dispostos a bancar. Por isso, neste momento, a Líbia é hoje um cenário utópico, no sentido original do termo: o não-lugar.
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