Há muitos elementos que denunciam o caos atual da Líbia. Não apenas pelos combates entre rebeldes e forças leais a Khadafi, mas pelo senso de que, na prática, nem a própria coalizão internacional entende exatamente o que se passa por lá. Os equívocos são reluzentes: em primeiro lugar, ninguém se atreve a dizer que tipo de resultado se espera desta guerra. A única certeza que percebo em torno dos acontecimentos é que o medo está presente em todas as atitudes políticas ocidentais.
Os EUA e a União Europeia morrem de medo de verbalizar o que é notório a qualquer um que acompanha a situação: a única possibilidade de vitória internacional requer a saída de Khadafi. E esta afirmação abre um leque de opções: o líder líbio não se mostra disposto a deixar o cargo – já disse que lutará até o fim. Ou seja, resta a quem exige sua retirada assumir esta posição, lutar por ela ou – a ainda menos prestigiada iniciativa – negociar a perspectiva de exílio com assessores do ditador.
Acho mesmo que Khadafi tem se tornado ainda mais virulento justamente porque quer construir alguma rota pessoal de fuga. Pode não ser bacana, pode não ser o resultado esperado, mas, em parte, encerraria o conflito. E aí todo mundo se depara com outro problema: quem o sucederia? Quem são esses rebeldes que já controlam algo do território oriental líbio? Os termos usados para se referir a eles são genéricos o bastante para denunciar uma verdade importante: ninguém sabe exatamente quem são essas pessoas. E quando digo isso é porque, politicamente, as posições do grupo são desconhecidas. Sabe-se somente que se opõe a Khadafi. Nada além disso.
No encontro entre líderes internacionais em Londres houve mesmo propostas para armar esses rebeldes. Isso me parece um tanto temerário, na medida em que suas intenções são completamente desconhecidas. Tal proposta revela a ansiedade para apresentar medidas práticas; e também profunda desordem entre os líderes internacionais. O episódio em que o presidente francês, Nicolas Sarzoky, reconheceu os insurgentes líbios formalmente exemplifica bem a confusão: Sarkozy tomou tal atitude unilateralmente. Não consultou EUA, Alemanha ou Reino Unido. Aliás, o próprio ministro das Relações Exteriores francês soube da decisão através da imprensa.
Todo este emaranhado de ações não tem ajudado. E agora os rebeldes – que, pelo menos já se sabe, são mal armados e mal treinados – governam parte do território líbio. Nesta sexta-feira, inclusive, fecharam acordo para exportar óleo ao Qatar. Na prática, por ora, a Líbia é somente um país dividido cuja soberania já não existe mais, Khadafi continua presidente e a coalizão internacional ainda finge que seus objetivos dizem respeito tão somente à proteção de civis. Muito possivelmente, é bem provável que se houvesse a decisão de mudar o regime de fato a situação estaria menos descontrolada. A verdade é que ninguém pode dizer ao certo para onde caminha a Líbia.
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