quinta-feira, 2 de abril de 2009

Brasil sai fortalecido da reunião do G20

Não faz muito tempo, mas era prática comum que um enviado do FMI pousasse em Brasília periodicamente e fosse recebido com status de chefe de Estado pelo presidente brasileiro. Este recebia uma lista com as exigências de metas econômicas que o país deveria apresentar caso quisesse conseguir empréstimos na instituição.

Hoje a situação se inverteu. É o que provam as resoluções divulgadas hoje pelo G20. E não apenas por conta da crise financeira, mas em boa parte pelas mudanças significativas políticas e econômicas obtidas nos últimos anos pelo governo brasileiro.

Uma das principais decisões tomadas hoje em Londres diz respeito à ajuda que os países-membros – dentre eles, o Brasil – vão dar ao FMI.

A instituição vai receber um fundo de 1 trilhão de dólares para emprestar dinheiro aos países em desenvolvimento. O Brasil foi um dos Estados a decidir sobre o futuro do FMI, e não o contrário, como era comum há alguns anos.

Mais ainda, a agenda internacional econômica defendida pelo Brasil saiu em grande parte vencedora da reunião. Por exemplo, ficou acertado um acordo que deverá nomear os países que impedem as regras de livre comércio. Além disso, haverá sanções aos chamados paraísos fiscais. Todos esses pontos são defendidos pela política externa brasileira. 

Foi preciso uma crise global para que os países desenvolvidos apoiassem regras justas e mais claras para determinar o comércio mundial e o mercado financeiro.

Em artigo publicado no britânico The Daily Telegraph o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, simplesmente reafirma a posição brasileira, mas como se fosse a justiça simbolizada pela política da UE. Sou avesso a patriotadas, mas é preciso deixar claro quem são os históricos defensores de cada uma das ideias apresentadas por Barroso.

Vale citar três tópicos, que, se extraídos do artigo, poderiam muito bem ser assinados por Celso Amorim, Celso Lafer ou Marco Aurélio Garcia.

“protecionismo e nacionalismo econômico são falsos amigos que abastecem a pobreza e o conflito: vimos isso nos anos 1930”.

“precisamos estabelecer regras capazes de controlar a globalização. Somente o trabalho internacional conjunto pode colocar o potencial dos mercados a serviço dos cidadãos e atingir desafios globais como mudança climática, segurança energética e o combate à pobreza”.

“(É preciso) enviar uma mensagem forte contra toda a forma de protecionismo e comércio livre a partir do desenvolvimento das conversações de Doha”.

E por fim...

“Países em desenvolvimento não devem pagar o preço de uma crise criada nos países desenvolvidos”.

O que vale é saber que os conceitos são esses, mesmo que ele não tenha tido essas ideias geniais desde sempre. Mas a posição de Barroso mostra uma tendência intrínseca do ser humano de tentar capitalizar para si posições alheias quando essas passam a ser unanimidade.

2 comentários:

camilla disse...

gostei!

Wilson Maia disse...

E finalmente temos uma política internacional séria. Nada de baixar a cabeça para os gringos! Bom texto.