Hoje é o dia em que o mundo recorda – ou melhor, deveria recordar – o massacre de 1,5 milhão de armênios por turcos-otomanos em 1915. O genocídio é considerado o primeiro do século vinte – repleto de massacres a civis inocentes. Mas o assunto ainda é tabu, principalmente para a Turquia, que se recusa a usar o termo “genocídio”.
O momento é especial para tratar do tema. Primeiro porque a Turquia pretende ingressar na União Europeia.
Apesar de a mea culpa nacional não ser um pré-requisito para aderir ao bloco, aprender a lidar com este fantasma histórico seria considerado um ato positivo pelos países europeus. Se Alemanha e Áustria (o primeiro mais do que o segundo, é bem verdade) fizeram isso em relação ao Holocausto, por que os turcos também não podem admitir a autoria do massacre?
Em segundo lugar, o atual governo Obama enxerga na Turquia um importante aliado muçulmano no combate ao terrorismo. Mais do que isso, os turcos podem ser mediadores fundamentais em negociações com o Irã. Como justificar à opinião pública americana que um de seus principais interlocutores no combate ao fundamentalismo se recusa a admitir um erro tão grave de seu passado?
O fato é que esta semana foi marcada pela declaração do ministro das relações exteriores da Turquia de que seu país e a Armênia concordaram em estabelecer um cronograma cujo objetivo final seria a reconciliação plena entre ambos.
Numa mostra de humildade fora do comum nas relações internacionais, o presidente da Armênia, Serge Sarkisian, disse que o reconhecimento turco da responsabilidade pelo genocídio de 1915 não é um pré-requisito para o estabelecimento de relações bilaterais.
Seja como for, o impasse é maior do que simplesmente admitir crimes passados. A Turquia apoia seu aliado muçulmano Azerbaijão na disputa travada com os armênios pelo território de Nagorno-Karabakh, no Cáucaso. E esse dilmea militar-diplomático ainda está longe de terminar.
Pelo visto, a fronteira entre Turquia e Armênia – fechada desde 1927 e há mais tempo do que a fronteira entre Coreia do Sul e Coreia do Norte – deve demorar bastante para ser reaberta.
2 comentários:
É isso mesmo Henry... não é apenas umas questão de reconhecer ou não o massacre, há muita política e poder por trás disso tudo.
O reconhecimento não veio até hoje (quase 100 anos depois) e acho que não virá tão cedo.
Bom texto. Não podemos esquecer aqueles que sofreram por nós.
Saudações,
Margos Dezerian
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