Ao que parece, as armas nucleares vão ocupar ainda mais a agenda internacional. Principalmente neste ano. As decisões em torno de Coreia do Norte e Irã se sucedem numa espiral que pode decidir o futuro das relações políticas e militares. Enquanto na era Bush o mundo esteve dividido entre o eixo do bem e o do mal, Obama parece perseguir um meio termo que, apesar de ter o real mérito de romper com o maniqueísmo, não resolve o problema de vez.
E é esta a solução que vem se apresentando no caso do Irã. A República Islâmica já declarou inúmeras vezes que não vai interromper o desenvolvimento de seu programa nuclear. A bola continua do lado dos países que pretendem interromper este ciclo, considerado uma ameaça por Estados Unidos e Israel. Mas este jogo está para mudar.
Por maior que seja a boa vontade de Washington, a contradição entre discurso e prática da política externa do país fica mais evidente. Numa semana, Obama declara que quer livrar o planeta de armas nucleares. Mas nesta terça-feira, reportagem do The New York Times revelou uma profunda e significativa mudança de estratégia do time de países capitaneado pelos EUA.
De acordo com o jornal, a administração Obama já considera a possibilidade de permitir que o Irã continue a enriquecer urânio – ao menos nas fases preliminares de negociação. Durante o governo Bush, a diretriz era negociar somente a partir do momento em que os iranianos fechassem toda infraestrutura de desenvolvimento nuclear.
Em entrevista ao jornal, um oficial europeu explicitou a principal razão para envergar a posição de americanos e seus aliados.
“Chegamos à conclusão que isso simplesmente não vai funcionar. A experiência nos ensina que os iranianos não vão ‘comprar’ essa ideia. Vamos começar com passos como este para criar um pouco de confiança”, diz.
É claro que não há dúvidas de que esta é uma abordagem inteligente em relação a um regime que se recusa a responder aos gestos de boa vontade. Mas política não é matemática e não existe qualquer garantia de que, graças a isso, Ahmadinejad irá abrir mão de suas ambições nucleares. Aliás, o presidente iraniano não cansa de repetir que o desenvolvimento de armas atômicas é um ponto central de seu governo. E nada leva a crer que se trata tão somente de, graças a discursos com este conteúdo, elevar seu poder de barganha.
Afinal, o que ele pode exigir em troca? O fim do apoio americano a Israel? Esta não me parece ser uma demanda a que os EUA queiram atender. Esta não é uma carta que está na mesa.
Sendo muito otimista, o objetivo do Irã com seu projeto nuclear é apenas se tornar uma potência regional no Oriente Médio. Sendo muito pessimista, Ahmadinejad usará um armamento de tal magnitude para pôr em prática sua cruzada fanática e religiosa de varrer Israel do mapa, objetivo que ele já propôs inclusive em discurso na ONU. Qual o tamanho da faixa variável entre o mínimo e o máximo é mera especulação.
Enquanto isso, o Irã vai ganhando tempo com uma estratégia muito conhecida: a do morde e assopra. Se morde com discursos duros, assopra afirmando que prepara um pacote de demandas para apresentar aos EUA de forma a aceitar a proposta de negociações diretas, como informa a agência de notícias oficiais do país, a IRNA.
Ao mesmo tempo, o número de centrífugas construídas é estimado em 5.500. Segundo especialistas, é quantidade suficiente para fazer duas armas nucleares por ano.
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