Sem a menor dúvida, este é um dos momentos mais críticos da política externa americana para o Oriente Médio desde a posse da Obama no início do ano. A fase é especialmente importante na tentativa da nova administração de desembolar – ou ao menos dar um contorno próprio – as diversas frentes da chamada Guerra contra o Terror iniciada por Bush.
Optei por comentar a grande ofensiva americana no Afeganistão em outra oportunidade. Por ora, acho importante abordar a saída das tropas americanas das cidades iraquianas em meio à enorme confusão no país e no importante vizinho, o Irã.
O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, está em Bagdá buscando acalmar a situação e também reafirmar o apoio institucional aos atuais líderes do Iraque. A crise é grave no país. Em junho, o número de civis mortos em atentados terroristas chegou a 447. É o dobro do registrado no mês anterior e a comprovação da “competência” dos grupos extremistas em desestabilizar o processo de retirada dos soldados americanos.
É bom que se diga que o exército americano não está apenas deixando de atuar nas cidades, mas também repassando 168 bases às forças militares iraquianas.
Em meio a tudo isso, a confusão provocada pela polêmica reeleição de Mahmoud Ahmadinejad no Irã pode reverberar no Iraque.
Tudo porque existe um fator transnacional que já se mostrou em diversas ocasiões mais poderoso do que a noção de Estado nacional: o apelo às distintas correntes do islamismo. No caso, as mais importantes diferenças de interpretação da fé que dividem o mundo muçulmano entre xiitas e sunitas.
A minoria sunita no Iraque de Saddam Hussein governava o país. Hoje, depois da derrubada e morte do ditador, a maioria xiita reprimida até 2003 pode em algum momento – principalmente depois da saída militar americana completa no final de 2011 – articular uma aliança com o maior país xiita da região: o Irã.
Este não é um cenário absurdo, embora tudo não passe de especulação por ora. Até porque encaixaria bem com os planos de ascensão política e militar iranianos no Oriente Médio. Mais ainda, a aliança entre o Irã e a maioria xiita no Iraque pode se concretizar com o conflito cada vez mais próximo entre xiitas e sunitas em todo o mundo muçulmano.
E esta é uma das razões que fizeram com que Joe Biden fosse pessoalmente ao Iraque neste momento de crise. Porém, ao contrário do que ocorre no Irã, a maior liderança xiita iraquiana, representada pelo Grande Aiatolá Ali al-Sistani – que inclusive nasceu no Irã –, enfatiza que os clérigos devem ser figuras menores na maior parte dos assuntos políticos.
Mas, diante de uma reviravolta na região – que pode acontecer em breve, como escrevi algumas vezes –, é uma incógnita até que ponto os líderes religiosos xiitas vão manter sua posição e não irão se aliar com os clérigos iranianos.
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