É preciso ser claro em meio a tantos problemas internacionais: Obama está certo ao tentar se aproximar da Rússia. Por vários motivos. Primeiro, porque é coerente com sua grande plataforma política internacional, a de desnuclearizar o planeta. Segundo, porque a colaboração de Putin e Medvedev pode abrir algumas portas importantes.
Alguns nós internacionais no Oriente Médio e no extremo leste da Ásia requerem atitudes ou a mudança de discurso das lideranças russas: Irã, cujo programa nuclear conta com importante auxílio técnico e intelectual russo, Coreia do Norte (que tem em Moscou um importante aliado) e China (que ao lado da Rússia forma o grande eixo de poder militar e econômico dos não-alinhados da região).
Uma resolução prática do encontro entre Obama e as autoridades russas foi a autorização dada para que os EUA realizem 4.500 voos sobre o país levando armas e suprimentos para a guerra no Afeganistão. Muita gente não deu a verdadeira importância ao acordo, mas ele pode mesmo virar o jogo a favor dos americanos no combate ao talibã.
É estranho ver Obama elogiando Putin, figura polêmica acusada de envenenar opositores e ordenar o assassinato de jornalistas. Mas o jogo político envolve este tipo de prática. Condena-se a violação aos direitos humanos cometida nos países inimigos.
Aos aliados reserva-se uma espécie de “faixa de delitos”. Assim, Arábia Saudita, Egito, Rússia, dentre outros, podem evitar democracia, eleições limpas e até calar as vozes de oposição. Mas com o limite de usarem o “bom senso”, sem extrapolar.
É interessante como a oposição russa tem uma visão completamente distinta à apresentada pelos veículos de imprensa ocidentais. Em primeiro lugar, a histeria positiva às palavras de Obama não se repetiu em Moscou, como já havia acontecido na Europa e também durante o histórico pronunciamento no Cairo. Desta vez, o discurso na New Economic School, na capital russa, foi aplaudido. Mas somente no fim e com educado comedimento. E só.
Mas alguns veículos de imprensa de Moscou apresentaram distintas opiniões sobre a visita do presidente americano. Para a jornalista Yulia Latynina, do Moscow Times, o assunto mais importante não foi abordado: a relação entre Rússia e Geórgia. Para ela, uma nova invasão será ordenada em breve por Medvedev e Putin.
“Comparado ao conflito entre Rússia e Geórgia, que diferença faz que tipo de acordo eles (Obama, Putin e Medvedev) alcançam para reduzir as armas nucleares? No final das contas, Rússia e EUA nunca vão usar este tipo de armamento um contra o outro”.
E outra leitura que considero clara e absolutamente verdadeira sobre a diretriz da política externa russa.
“Medvedev e Putin sempre vão apoiar regimes antagônicos a Washinton por uma razão bastante simples: aumentar as tensões internacionais, subir o preço do petróleo e dar ao Kremlin outra chance de inflar sua autoimagem de potência global energética”, diz
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