Ainda sobre o novo gasoduto europeu, acho que vale a pena expor alguns dos interesses geopolíticos por trás do empreendimento. Há uma intricada rede de relações internacionais que a futura obra coloca em choque.
A Turquia é base do gasoduto e espera que o empenho empregado na iniciativa possa servir como trunfo para se tornar o primeiro Estado de maioria muçulmana a ingressar na União Europeia, decisão que não conta com a boa-vontade da Alemanha, por exemplo, maior economia do bloco.
O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, defende que o gás extraído no Irã seja transportado à Europa através do gasoduto. Mas o pedido é alvo da objeção dos Estados Unidos. Para as lideranças americanas, isso só poderia ocorrer quando Teerã e Washington normalizassem relações.
A Geórgia, por sua vez, está exultante com a obra. O gasoduto é a possibilidade de o país se aproximar dos ocidentais e, ao mesmo tempo, atacar a Rússia. Como escrevi ontem, Moscou desaprova o empreendimento, uma vez que sua realização é o primeiro passo prático para acabar com o poderio russo sobre os europeus.
Ao mesmo tempo, ainda não está claro do solo de quais países todo esse gás será extraído. Mesmo com grandes reservas, Irã, Turcomenistão e Iraque, estão fora de cogitação justamente por questões políticas. Da mesma maneira que outros fatore - envolvendo qualquer coisa à exceção de quesitos técnicos - são parte fundamental da maneira como a obra vai ser realizada.
O problemão foi tema do editorial de hoje do Financial Times. A respeitada publicação também considera o gasoduto muito mais do que uma obra de engenharia fundamental para os cidadãos europeus.
“O teste real de Nabucco é colocar em prova quando finalmente o continente vai se unir em torno da questão energética. Durante a cerimônia de assinatura, um dos líderes presentes pediu ‘mais pragmatismo’ e menos ‘geopolítica’”. Mas quando o assunto é energia, geopolítica é algo que nenhum pragmático pode ignorar”, diz o texto.
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