sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Brasil vai se meter numa roubada. E está feliz por isso

Não mereceu muito destaque o desmantelamento de uma rede terrorista que planejava grandes ataques a centros de produção de petróleo no Canal de Suez. Parte importante da cobertura é dedicada ao encontro do G8. Aparentemente desconexos, os dois assuntos têm o mesmo protagonista: o Irã.

E é possível ter uma certeza. A república islâmica está satisfeita com os resultados de seu projeto de hegemonia.

No Suez, o Hezbolah apoiado pelos iranianos está por trás dos ataques, que evidenciam a guerra travada entre Estados sunitas e Irã. O Egito de Hosni Mubarak é o país que vem promovendo as batalhas mais firmes contra os grupos apoiados por Ahmadinejad que tentam desestabilizar a região.

É praticamente uma guerra de guerrilha. O grupo cujo ataque foi frustrado nesta quinta planejava atentados a serviços essenciais em território egípcio. A situação está realmente clara neste caso e o embate entre o presidente do Egito e as autoridades do Irã segue uma curva ascendente,

E aí é possível começar a relacionar alguns dos resultados do G8. Há dois meses, Mubarak se recusou a comparecer à cúpula de países árabes no Qatar. A decisão foi tomada por conta do convite para que Ahmadinejad estivesse presente.

Lula esteve por lá. E o presidente brasileiro foi lembrado por Obama como um possível aliado para mediar os diálogos entre as potências ocidentais – principalmente, os Estados Unidos – e o Irã.

O esforço de Lula para se aproximar da república islâmica é evidente. E os EUA tentam ao menos extrair algo de positivo desta decisão da política externa brasileira. Afinal, se o Brasil quer uma vaga no conselho de segurança da ONU que deve ser ampliado, é chegada a hora também de exercer habilidades de negociação.

Mas como está claro também, o Irã não quer negociar de fato. Quer ganhar tempo para avançar em seu programa nuclear. E, enquanto os EUA reafirmam que querem se aproximar de Teerã, Ahmadinejad mostra grande habilidade em ameaçar, mas também usar a velha conhecida tática de ora dar declarações positivas, ora se distanciar de qualquer tentativa de diálogo com o ocidente.

E por isso o assunto é o tema dos grandes encontros internacionais. Porque tem deixado as lideranças mundiais confusas. E é neste cenário que Lula vai se meter. Nesta grande roubada, para ser mais claro. Ocupar o papel de mediador do diálogo com o Irã é quase garantia de fracasso.

Ao mesmo tempo, os sinais só não são interpretados por quem não quer. Ontem, enquanto o Brasil se sentia prestigiado pelas declarações de Obama, o governo iraquiano libertava sete iranianos detidos em janeiro de 2007 no norte do Iraque. Eles eram suspeitos de darem auxílio a militantes xiitas locais.

Está muito claro que o Irã usa meios extraoficiais para agir no Oriente Médio. Justamente porque a diplomacia internacional não pode cobrar do governo de Teerã qualquer posição sobre atos que, teoricamente, não receberam a chancela das autoridades do país. É uma estratégia conhecida, mas que tem deixado o mundo de mãos atadas. É neste cenário que Lula vai atuar.

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