Há dois grandes motivos por trás da resistência a Lieberman: o primeiro é o descontentamento com suas declarações infelizes. O atual ministro das relações exteriores israelense nunca tentou exercitar a arte da autocensura. Fala o que lhe dá na telha mesmo. O segundo motivo vem do fato de ele ter sido o pioneiro a expor suas ideias sobre o status final das fronteiras de Israel e do futuro Estado palestino. Acabou obtendo sucesso nas últimas eleições por causa disso.
Um dos grandes dilemas de Israel hoje – senão o maior deles – é a chamada “balança demográfica”, da qual já tratei algumas vezes por aqui. O país é composto por cerca de 80% de população judaica. Os demais habitantes são árabes. A questão é que a taxa de natalidade árabe é em média por volta de quatro a cinco vezes superior a dos cidadãos judeus. Não é preciso ser um grande especialista em estatística para saber que a tendência é que os judeus em algum momento passem a ser minoria dentro do Estado criado há 60 anos para ser seu lar nacional.
Lieberman botou o dedo na ferida. À sua maneira, é claro. Defende que um novo mapa seja desenhado, como mencionei no texto de ontem. E esse é um ponto interessante, uma vez que o problema das fronteiras definitivas é fundamental para se atingir um acordo.
O ministro israelense é chamado de “racista” por boa parte dos líderes internacionais porque defende a ideia de que árabes-israelenses devem ser transferidos para o futuro Estado palestino. Mas é a Jordânia que está tomando medidas práticas neste assunto. Aos poucos, em silêncio e sem merecer qualquer atenção da imprensa internacional.
As autoridades do país estão revogando a cidadania de milhares de palestinos – que, por sinal, representam cerca de 70% da população jordaniana. A intenção por trás desta medida é clara: fazer com que os palestinos tenham como única opção de cidadania plena o futuro Estado palestino. É uma forma de pressionar Israel a ser o único ator da região responsável por pensar e tornar viável uma solução para a questão da cidadania palestina.
E, é bom lembrar, somente Jordânia e Egito mantêm relações diplomáticas com Israel no Oriente Médio. Imagina se não fosse este o caso?
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