Novamente a Espanha foi vítima de mais dois atentados terroristas do ETA. Por mais que o país figure ao lado da Irlanda na lista de alvos preferenciais de ataques deste tipo no continente, sempre causa espanto aos europeus quando a violência covarde que ceifa a vida de inocentes acontece na vizinhança. A Europa muitas vezes relativiza o terrorismo. Mas desde que ele ocorra em Iraque, Afeganistão, Israel, Malásia, Paquistão e outros, é claro.
É interessante notar como a origem teórica desses ataques na Europa é distinta à dos cometidos no resto do mundo – principalmente em Oriente Médio e Ásia. Em Espanha e Irlanda, o alvo é o conceito de Estado nacional, no caso, os maiores inimigos de ETA e IRA. No Oriente Médio, principalmente, a missão é acabar com entidades vistas como ocupantes ou usurpadoras de território. Em comum a ambos, matar inocentes não costuma constituir qualquer crise de consciência.
Seja como for, sejam quais forem as supostas razões que “fundamentem” o terrorismo, a prática é absolutamente inaceitável. Qualquer que seja a cultura, não há espaço para interpretações ideológicas que justifiquem tais atos.
As efemérides desses atentados do ETA são dignas de lembrança: os 50 anos de fundação do grupo, e os poucos mais de cinco anos dos ataques cometidos pela al-Qaeda, em março de 2004, responsáveis por matar 190 pessoas.
Dois artigos publicados pelo El País, o mais importante jornal da Espanha, mostram que não deve haver tolerância com o uso da morte como barganha de negociação política.
No editorial de hoje, o veículo pontua com razão que as ações tinham como único objetivo lembrar que o grupo ainda existe. Além disso, deixa clara a posição sobre o modo de interação entre o poder constituído e o ETA.
“O governo, a oposição e a totalidades das forças políticas aprenderem a lição: as ações policiais e judiciais – além de outras iniciativas para isolar socialmente os terroristas – são as únicas estratégias sobre as quais existe um consenso amplo e implícito”, diz o editorial.
O professor de ciências políticas Antonio Elorza assina artigo que relembra a mudança de percepção da sociedade sobre o ETA. O trecho abaixo é curto e brilhante.
“Por muito tempo, observadores democratas da Espanha e do exterior acreditaram que (a atividade do grupo) se tratava de uma resposta à opressão exercida pela ditadura de Franco no País Basco. Em consequência, por mais que seus métodos fossem discutíveis, tratava-se de um movimento político e social progressista. Certamente o ‘franquismo’ foi um agente de radicalização do nacionalismo basco. Mas a raiz do problema é que, no final dos anos 1970, a questão para o ETA não era a presença ou ausência de democracia, mas a necessidade de vencer o ‘inimigo’ por associação: a Espanha”.
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