terça-feira, 21 de julho de 2009

Lieberman no Brasil

A visita do ministro das relações exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, à América Latina começou hoje. E já tratou de ser devidamente apimentada pelas polêmicas declarações de Valter Pomar ao Haaretz. O secretário de relações exteriores do PT chamou o político israelense de “racista” e “fascista”.

Antes de entrar no mérito da visita de Lieberman, vale lembrar que Pomar é o mesmo que, em janeiro deste ano, assinou um comunicado do PT chamando o exército israelense de “fascista” e “racista”. Ou seja, em 100% das vezes em que se manifesta com alguma repercussão, Pomar costuma usar tais adjetivos para se referir a Israel ou a seus representantes. Isso mostra bem como seu trabalho à frente da Secretaria de Relações Internacionais do partido é diversificado e relevante. Mostra também como os termos “fascista” e “racista” servem a qualquer propósito hoje em dia.

Deixando de lado esta questão menor – mas que causa grande barulho. Aliás, o objetivo deve ser esse mesmo –, vale situar a decisão do governo israelense de enviar seu chanceler à América Latina neste momento.

Alguns fatores importantes: ser um contraponto à aliança de países do continente com o Irã; aumentar o espectro de aliados de Jerusalém num momento de relações em baixa com os EUA; encontrar-se com lideranças judaicas no mês que marca os 15 anos do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, um caso ainda não solucionado pela justiça argentina; e talvez o mais importante motivos de todos: mandar Lieberman para bem longe de Israel.

Lieberman é motivo de grande controvérsia em Israel. Só está no governo por seu partido (Israel Beiteinu) ter conseguido 15 cadeiras nas eleições, conseguindo inclusive superar o tradicional partido trabalhista. Graças ao esquizofrênico sistema de coalizões israelense, Benjamin Netanyahu precisou de Lieberman para conseguir assumir o cargo de primeiro-ministro. Mas é evidente que o polêmico político não goza das habilidades de, por exemplo, sua antecessora, Tzipi Livni.

Lieberman é rejeitado pela maior parte dos países. Muitos inclusive se recusam a recebê-lo, como é o caso de dois dos mais importantes interlocutores de Israel na região, Egito e Jordânia. Para se ter ideia, é o presidente Shimon Peres quem viaja para esses dois países ultimamente para tratar de assuntos da política externa israelense.

O mais curioso disso tudo é que o mesmo motivo explica a ascensão da figura de Liberman no cenário israelense nas últimas eleições e também o descaso com que é tratado no exterior: o plano que defende para redesenhar o mapa de Israel, incluindo porções de território com concentração de população árabe no interior do futuro Estado palestino, e os grandes blocos de assentamentos judaicos na Cisjordânia em Israel. O assunto rende muito pano pra manga e por isso acho válido tratar dele num texto específico.

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