A Europa estava ansiosa aguardando o discurso do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, durante cerimônia realizada na Polônia para marcar os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial. Para tranquilizar a plateia, o dirigente linha-dura não partiu para o confronto, como se imaginava. Não sugeriu nenhuma nova redação dos livros de história, não desafiou os donos da casa. Pelo contrário; enalteceu a coragem dos soldados poloneses e da resistência que se opôs a Hitler.
Anteriormente, no entanto, o governo de Moscou divulgara documentos que “provariam” a conivência polonesa com os alemães.
O resgate e a constante investigação de fatos históricos não são ruins por definição. Mas, recentemente, o mundo assiste com certa frequência às tentativas de mudança do passado em nome de estratégias políticas atuais.
É isso o que há muito tempo o Irã vem tentando fazer ao questionar de maneira absurda e repetitiva a própria existência do Holocausto, como forma de atacar Israel. É isso também que queriam fazer os russos, com o propósito de manter a doutrina de “sustentação e inviolabilidade” da honra do país (?).
O parlamento russo considera a possibilidade, inclusive, de aprovar uma lei que pode vir a julgar como crime qualquer “menosprezo à vitória soviética” na Segunda Guerra.
E que ninguém se engane. Putin só não bateu na Polônia hoje também em nome de interesses estratégicos.
Como Obama tem revisto a iniciativa do ex-presidente Bush de instalar parte do polêmico escudo antimísseis em território polonês, as relações entre Varsóvia e Washington não atravessam sua melhor fase, digamos assim. E é esse vácuo de insatisfação que o primeiro-ministro Putin tentou preencher hoje. O flerte com a Polônia deve continuar daqui pra frente.
E, mais uma vez, a história foi manipulada em nome de interesses políticos. Putin e Ahmadinejad são os maiores exemplos de articuladores que não se envergonham desta prática em nossos dias.
2 comentários:
Henry
Como sempre, pequenos detalhes da história são esquecidos na construção dos mitos nacionais. Em 1939, o Governo polones aproveitou a invasão nazista na Tchecoslováquia para anexar uma fatia do território tcheco. A anexação foi oficializada em Munique por Inglaterra e Alemanha. Eu não vi a mídia citar este fato nas comemorações dos acordos Ribentrop/Molotov.
Quanto ao Holocausto, a estupidez do Governo iraniano impede que o dedo seja colocado na verdadeira ferida: o genocídio de judeus na Segunda Guerra Mundial não pode justificar a negação contínua dos direitos do povo palestino.
Nélio Galsky
Obrigado pelo seu comentário, Nélio. Mas, embora respeite sua opinião, não consigo associar o Holocausto à negação dos direitos nacionais palestinos. Acho que, atualmente, o estabelecimento de fronteiras definitivas após um acordo de paz entre Israel e Autoridade Palestina se deve muito mais a questões demográficas do que à memória judaica sobre o Holocausto. Como você sabe, Israel quer se manter como um Estado Judeu e, por isso, os líderes israelenses consideram ponto fundamental a manutenção de maioria populacional judaica. Seja como for, esta é apenas minha opinião.
Um abraço,
Henry
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