quinta-feira, 10 de junho de 2010

Aprovação de sanções não convence opinião pública mundial

Num primeiro momento, parece que as intenções americanas ao conduzir o processo de aplicação de novas sanções ao Irã foram mal-sucedidas. Menos de 24 horas após a votação no Conselho de Segurança da ONU, editoriais dos mais importantes jornais do mundo chegaram à conclusão óbvia de que as medidas não impedirão Ahmadinejad de prosseguir com seu programa nuclear. E, não tenham dúvidas, esta reflexão não atende aos anseios nem de Washington, nem de Teerã.

Barack Obama tentava consertar sua fracassada política externa. A montanha-russa internacional conduzida pelo porta-voz da mudança possui mais baixos do que altos. Houve o período seguinte à posse, no começo de 2009, quando fez discursos em Egito e Turquia clamando pela aproximação entre ocidente e o mundo islâmico. Mas muito pouco mudou; o novo governo não conseguiu bom desempenho na condução do processo de paz, por exemplo, e muito menos na tentativa de diálogo com os iranianos. E aí a Casa Branca passou a optar por investir nas pessoas; acreditava que ao apoiar o empreendedorismo no Oriente Médio poderia mudar a imagem americana na região. Não adiantou. Agora, retornou ao modelo anterior, quando se viu ameaçada de perder o controle da situação a partir da emergência de novos atores, como Brasil e Turquia.
O problema, agora, é que o tiro pode ter saído pela culatra. Quando o pacote de sanções virou motivo de piada, ficou claro que o governo dos EUA não sabe bem o que fazer. E aí Brasil e Turquia podem ter marcado posição de forma positiva. Muito embora por motivos distintos, ao se oporem às punições propostas por Washington, os dois países acabam, por consequência, distanciando-se da imagem de ineficácia chancelada pelo Conselho de Segurança. E isso pode contribuir para a retórica brasileira que defende a reforma do CS.

A situação atual, aprovada pelas Nações Unidas, representa grande equívoco – para dizer o mínimo –, sob o ponto de vista daqueles que rejeitam a ideia de um Irã atômico: a comunidade internacional aparenta ter tomado alguma atitude séria para frear as ambições de Ahmadinejad, mas, na prática, as sanções não vão mudar nada. O presidente iraniano ficou muito satisfeito com o resultado da votação desta quarta-feira, não tenham dúvidas. Mas ele certamente vai mudar de opinião ao se dar conta de que a opinião pública internacional não embarcou neste teatro. Até porque, talvez haja alguma pressão para os EUA mudarem de atitude e buscarem sanções que de fato ameacem a estabilidade do governo de Teerã.
É preciso também derrubar outro mito nesta arena de informações desencontradas: a oposição interna iraniana, liderada por Mir Hossein Mousavi, também rejeita sanções e acredita que a continuidade do processo de enriquecimento de urânio é um direito nacional.

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