Será que a notícia de que o exército turco matou 120 rebeldes curdos no norte do Iraque nesta sexta-feira muda as posições dos países da região? Não creio. Até porque o novo status da Turquia parece consolidado pelos vizinhos. A aliança xiita já atingiu seu objetivo político maior ao reduzir significativamente os laços entre Ancara e Jerusalém. Agora, basta colher os benefícios de contar com a aliada de maior peso neste novo grupo de atuação geopolítica.
A situação dos curdos é muito parecida à dos uzbeques no Quirguistão. A morte de dois mil deles não comove tanto quanto a dos ativistas da frota humanitária. A morte de 120 rebeldes curdos segue a mesma "lógica". O raciocínio também é válido para os cerca de 300 mil mortos no Sudão. A solidariedade internacional é bastante seletiva.
O colunista Philip Stephens, do Financial Times, é pragmático em relação à Turquia. Cabe ao ocidente entender o novo papel exercido pelo país e destinar um novo tratamento a seu primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, argumenta. Se Ancara buscou uma aliança com o Oriente, é preciso legitimar esta liderança.
Este é um argumento parcialmente válido. Porque dá a entender que se trata de um fato consumado, como se a Turquia pudesse fazer o que bem entendesse.
Na prática, a mensagem é muito simples: quando a Turquia oprime os curdos, este é um problema interno da política turca - mesmo que a ofensiva militar tenha ocorrido no norte do Iraque. Quando Israel aborda navios que tentavam furar o bloqueio a Gaza, este é um problema da comunidade internacional. Dá para entender a diferença?
Não tento justificar nenhuma das ações. Mas acho que são exemplos claros da aplicação de padrões distintos. O fato de ambos serem acontecimentos recentes, relevantes e ocorridos na mesma região só dá contornos ainda mais evidentes à linha de raciocínio que tento seguir.
Acho que é chegado o momento de pensar sobre esses paradigmas esquizofrênicos que têm conduzido as relações internacionais e a formação da opinião pública mundial. Até porque, como escrevi ontem, contar ou não com o apoio popular tem se mostrado um fator determinante para estabelecer vitoriosos e derrotados nos conflitos recentes.
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