Algumas cifras curiosas e importantes: a British Petroleum aceitou criar um fundo indenizatório de 20 bilhões de dólares para os afetados pelo vazamento no Golfo do México. No ano passado, o governo Obama liberou 11 bilhões de dólares para o desenvolvimento de pesquisas de novas fontes de energia. Parando para pensar um pouco nos últimos acontecimentos, nenhum desses valores se aproxima das grandes possibilidade oferecidas pelo Afeganistão.
Tudo parece confluir para montar este quebra-cabeça. Os Estados Unidos já buscavam se livrar da dependência do petróleo. Este é um fator que amarra o país política e economicamente. Imaginem os benefícios para os americanos que uma redução significativa do poder de barganha da Opep (cartel formado pelos países exportadores de petróleo) poderia trazer? Mas apenas isso não resolveria o problema. Seria preciso encontrar uma nova maneira de liderar este novo mundo. Coincidência ou não, a resposta pode estar no Afeganistão, após o anúncio das descobertas minerais do país.
O maior desastre ambiental do planeta precipitou todo este processo. Agora, a tendência é que os fatos comecem a se suceder num efeito cascata. Não foi à toa que Barack Obama foi a público e fez um apelo nacional.
"Não podemos reservar este futuro a nossas crianças. A tragédia que se revela em nossa costa é a lembrança mais dolorosa e poderosa de que o tempo de abraçar a energia limpa é agora", disse.
Obviamente, o presidente americano não contava com este derramamento de petróleo. Mas a tragédia pode ter servido para articular uma tentativa de reversão de crise que ao mesmo tempo reafirma os ideais de campanha um tanto esquecidos pelos eleitores. Ao adotar o discurso da energia limpa, Obama investe no imaginário poderoso e positivo de mudança, respeito ao meio ambiente e, finalmente, revisão dos paradigmas econômicos - ecologicamente incorretos, diga-se de passagem - sobre os quais o mundo inteiro se baseia.
Mas nem tudo deve ser fácil para os EUA. Se a Casa Branca pretende contar com a parceria afegã, será preciso convencer o presidente Hamid Karzai. E isso pode ser feito a partir da lembrança de que foi Washington quem o manteve no poder, mesmo depois de ficar evidente que as eleições no Afeganistão foram fraudadas.
A atuação de Karzai não deve mudar muito em relação à atual. Como o país não possui tecnologia e dinheiro para desenvolver as minas de extração dos recursos, o governo central deve ratear os direitos exploratórios. E esta é a visão do paraíso para as autoridades do país. Um grande leilão sem limite de valor diante de potências sedentas e dispostas a liberar quantias altíssimas. Vale citar que, somente para a mina de cobre ao sul de Cabul, a China desembolsou nada menos do que 400 mil dólares. E essa quantia deverá ser depositada todos os anos enquanto a exploração persistir.
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