Um dos minerais mais importantes encontrados em território afegão é o lítio. Escrevi sobre o assunto em texto publicado aqui mesmo em dezembro do ano passado. A Bolívia é o país com a maior reserva do elemento. Se você não ouviu falar nele, com certeza isso vai mudar. Além de servir para a confecção de baterias de notebook e Blackberrys, o lítio será usado em baterias para os veículos elétricos que serão produzidos para gradualmente substituir os automóveis movidos a gasolina. Ou seja, o recurso é um dos pilares da nova economia mundial.
No caso da Bolívia, existe grande dificuldade para estabelecer formas de explorar o enorme potencial do lítio. O país não tem dinheiro para construir as minas. No Afeganistão, certamente esta questão será facilmente contornada, como se pode imaginar. A presença americana vai cuidar deste pequeno "problema". E sem a menor dúvida haverá grande lobby para que as tropas dos EUA permaneçam em solo afegão por mais tempo. Vale citar que a Rockwood, de Nova Jersey, é a empresa líder no planeta na produção de bens a partir do elemento. Ela não irá se ressentir se conseguir através do governo matéria prima em abundância para seus negócios.
Não é de hoje que os recursos afegãos causam polêmica. No ano passado, o ministro das Minas do país foi acusado por oficiais americanos de ter aceitado suborno de 30 milhões de dólares para permitir que a China desenvolvesse a exploração de cobre.
Se a descoberta atual pode trazer progresso, pode também causar ainda mais ambição por parte do Talibã. O grupo precisa de dinheiro e já controla a indústria do ópio. Não haveria razões para acreditar que os radicais abririam mão de um negócio que muito possivelmente será ainda mais lucrativo. A situação pode despertar cobiça também do corrupto presidente Hamid Karzai. Mas esse os americanos devem controlar com mais facilidade, uma vez que foi Washington quem o bancou durante as últimas e controversas eleições.
Para os Estados Unidos, a situação vai ser interessante. Se os recursos minerais podem ajudar a pagar as altas contas da Guerra do Afeganistão, as tropas precisarão de ainda mais investimento para combater talibãs muito motivados por ideologia, poder e dinheiro. Este será mais um desafio para Barack Obama. Mas, possivelmente, a questão vai cair no colo do sucessor do atual presidente. O que se pode ter certeza agora é que a descoberta anunciada pelos EUA pode alterar o interesse mundial na Ásia Central. Até porque vizinhos importantes – Rússia, China e Irã, por exemplo – não irão ficar resignados na posição de meros espectadores diante desta nova riqueza.
2 comentários:
Muito interessante. Realmente não vi isso em lugar nenhum. Espero que não seja usado para sustentar mais uma ditadura no OM.
É verdade, Paulo. Mas a gente conhece a história do Oriente Médio e sabe como casos deste tipo costumam terminar.
Grande abraço.
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