Ao contrário do que possa parecer num primeiro momento, o Conselho de Segurança da ONU deu um grande passo favorável a legitimar junto à opinião pública o governo de Mahmoud Ahmadinejad. Ao aprovar novo pacote de sanções contra o Irã, as potências ocidentais prestaram um favor político para o presidente iraniano. Em primeiro lugar, esta é a quarta rodada de punições à república islâmica. Nenhuma das três anteriores foi capaz de impedir o desenvolvimento do programa nuclear de Teerã. E seguramente as novas sanções vão continuar a serem ineficazes.
Somos todos testemunhas de um grande jogo de enganação internacional. O Irã continua a progredir rumo à bomba atômica. E o mundo finge tomar medidas para frear as intenções do regime Khamenei-Ahmadinejad. O sinal mais óbvio disso é a resolução desta quarta-feira ter contado com os votos de China e Rússia, países que mantêm lucrativos negócios com os iranianos. A explicação para a adesão dos dois é simples: as medidas punitivas excluem quaisquer restrições às indústrias de gás e petróleo do Irã. Ou seja, Moscou e Beijing dormirão tranquilas; os contratos de suas empresas com o regime islâmico não sofrerão nenhuma alteração. Vale citar também que a área energética responde por boa parte dos rendimentos econômicos de Teerã.
Ora, a pergunta óbvia que poderia ser feita neste caso é: "por que então adotar novas sanções?". Simplesmente porque, a partir do acordo alcançado por Brasil e Turquia, era preciso dar uma resposta prática internacional capaz de bater de frente com as ambições políticas demonstradas por Erdogan e Lula. Um assunto tão importante estrategicamente não poderia ser conduzido por dois países emergentes.
Na prática, as sanções desta quarta mudam pouco o cenário do ponto de vista de quem realmente quer impedir que o Irã desenvolva um programa nuclear. As punições econômicas serão contornadas por Ahmadinejad; os ganhos políticos do presidente iraniano serão muito mais significativos. Por exemplo, ele continuará a culpar o ocidente por seus problemas internos; irá transformar suas ambições atômicas num projeto nacional, calando a oposição; principalmente, a aprovação de sanções neste momento vai quebrar ao meio qualquer intenção de os opositores protestarem contra o regime, quase exatamente um ano depois das controversas eleições presidenciais realizadas em 12 de junho de 2008.
Como bem admite a BBC, as punições reafirmam que a comunidade internacional corrobora os ganhos nucleares alcançados pelo Irã até hoje, além de excluir a possibilidade de ataques militares contra as instalações da república islâmica por um bom tempo.
Steven E. Miller, diretor do Programa de Segurança Internacional da Universidade de Harvard, é taxativo quanto à incompetência representada pelo momento atual:
"Acho que acabamos optando por sanções porque não sabemos o que mais poderíamos fazer", diz. Não acredito que um assunto tão importante possa ser tratado com tamanho descuido estratégico.
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