Ainda não se sabe exatamente a solução deste dilema: a espionagem é parte da cultura governamental russa ou o país de fato precisa de dados colhidos secretamente para manter seu poder? Poder este que, aliás, lembra muito pouco o período soviético. Curiosamente, a resposta do Kremlin para as prisões efetuadas pelo FBI soa um tanto enigmática.
"Não entendemos as razões que levaram o Departamento de Justiça (dos EUA) a fazer uma declaração pública (sobre o caso) no espírito das histórias de espionagem dos tempos da Guerra Fria".
São palavras de condenação ou autocrítica? Não fica claro de maneira nenhuma, mas soa como uma tentativa de imputar aos Estados Unidos a culpa pela descoberta da história.
Enquanto Rússia e EUA fazem o possível para minimizar os danos às relações bilaterais, especula-se sobre o envolvimento direto do presidente Dmitry Medvedev (na foto, ao lado de Putin). Não somente neste caso em particular, mas em seu reconhecido empenho para ter acesso privilegiado às informações de importantes ciclos políticos e empresariais americanos.
E aí é preciso mencionar outro ponto interessante. A denúncia sobre o uso da missão russa na ONU como base de espionagem. Se isso de fato ficar comprovado, acho que as Nações Unidas precisarão tomar alguma atitude formal. Afinal, o propósito das delegações baseadas em Nova Iorque não deveria ser transformar seus membros em funcionários de um posto avançado de espionagem. Na teoria, claro.
Sobre o questionamento quanto às despesas envolvidas na operação, a resposta é simples. Os acusados estavam tão envolvidos no cotidiano que boa parte deles já se mantinha pelos próprios meios. Dois casos interessantes: Cynthia Maurphy usufruía de rendimentos anuais de 135 mil dólares trabalhando no ramo financeiro; Anna Chapman era proprietária de empresa do setor imobiliário em Manhattan cujo valor estimado é de 2 milhões de dólares.
Como até agora a trama se sobressai aos resultados – ainda não foram encontradas evidências de que a missão tenha obtido algum sucesso –, acho que pode haver uma reviravolta à vista. Não ficaria surpreendido se, em algum momento, os acusados admitirem ter deixado a espionagem de lado para se entregar de vez a viver o sonho americano.
"Não entendemos as razões que levaram o Departamento de Justiça (dos EUA) a fazer uma declaração pública (sobre o caso) no espírito das histórias de espionagem dos tempos da Guerra Fria".
São palavras de condenação ou autocrítica? Não fica claro de maneira nenhuma, mas soa como uma tentativa de imputar aos Estados Unidos a culpa pela descoberta da história.
Enquanto Rússia e EUA fazem o possível para minimizar os danos às relações bilaterais, especula-se sobre o envolvimento direto do presidente Dmitry Medvedev (na foto, ao lado de Putin). Não somente neste caso em particular, mas em seu reconhecido empenho para ter acesso privilegiado às informações de importantes ciclos políticos e empresariais americanos.
E aí é preciso mencionar outro ponto interessante. A denúncia sobre o uso da missão russa na ONU como base de espionagem. Se isso de fato ficar comprovado, acho que as Nações Unidas precisarão tomar alguma atitude formal. Afinal, o propósito das delegações baseadas em Nova Iorque não deveria ser transformar seus membros em funcionários de um posto avançado de espionagem. Na teoria, claro.
Sobre o questionamento quanto às despesas envolvidas na operação, a resposta é simples. Os acusados estavam tão envolvidos no cotidiano que boa parte deles já se mantinha pelos próprios meios. Dois casos interessantes: Cynthia Maurphy usufruía de rendimentos anuais de 135 mil dólares trabalhando no ramo financeiro; Anna Chapman era proprietária de empresa do setor imobiliário em Manhattan cujo valor estimado é de 2 milhões de dólares.
Como até agora a trama se sobressai aos resultados – ainda não foram encontradas evidências de que a missão tenha obtido algum sucesso –, acho que pode haver uma reviravolta à vista. Não ficaria surpreendido se, em algum momento, os acusados admitirem ter deixado a espionagem de lado para se entregar de vez a viver o sonho americano.
4 comentários:
A KGB é ao mesmo tempo uma sociedade secreta, uma agência do governo, uma máfia e um partido político. Aliás, consegue ser ao mesmo tempo "o partido da ordem" (conceito que Marx utiliza para designar alianças das classes dominantes que podem incluir mais de um partido eleitoral e várias entidades apartidárias), já que se habituou a reprimir dissidências e manter o "business as usual" da URSS/Rússia, e um sub-produto do PCUS (o que sobrou o partido bolchevique depois que foram destroçados os mencheviques e assassinados os bolcheviques pioneiros).
Sociedade secreta, máfia, agência do governo e partido político são as quatro organizações mais fáceis de se montar e mais difíceis de se encerrarem.Diferentes da força-tarefa, que existe pra cumprir um trabalho e se dissolver depois de cumprir sua razão de ser, grupos desse tipo são "forças-tarifas": extraem tanto lucro de sua força que ganham vida própria e fazem uma raison d'étre sua própria perpetuação. Por que o cachorro abana o rabo? Porque ele é mais inteligente que o rabo. O dia em que o rabo for mais inteligente (contra-inteligente também serve), o rabo é que vai abanar o cachorro.
Não é o sonho americano que esse pessoal busca, é o sonho maçônico de eternidade que qualquer entidade desse tipo busca, inclusive os grupos que exportam o sonho americano para o resto do mundo. Quem lucra de exportar sonhos vive muito além desses sonhos tão pueris, sejam sonhos americanos ou sonhos leninistas. Quando a ditadura militar criou o SNI nasceu um "monstro" (expressão do criador do SNI, Golbery) que conduziu a tônica da própria ditadura, contrariando até mesmo os ditadores. O Collor de Mello em sua demagogia neoliberal extinguiu o SNI, naquela cretinice de "enxugar a máquina pública" (e nem nisso pôde ir até o fim, surgiu a ABIn no lugar). O resultado mais prático foi que todos os ex-"spooks" do SNI abasteceram a CPI do Esquema-PC com os as informações sigilosíssimas que foram decisivas para a derrubada daquele gângster arrogante que supunha, corretamente, aliás, que milionários no Brasil nunca pagam o pato.
A KGB é ao mesmo tempo uma sociedade secreta, uma agência do governo, uma máfia e um partido político. Aliás, consegue ser ao mesmo tempo "o partido da ordem" (conceito que Marx utiliza para designar alianças das classes dominantes que podem incluir mais de um partido eleitoral e várias entidades apartidárias), já que se habituou a reprimir dissidências e manter o "business as usual" da URSS/Rússia, e um sub-produto do PCUS (o que sobrou o partido bolchevique depois que foram destroçados os mencheviques e assassinados os bolcheviques pioneiros).
Sociedade secreta, máfia, agência do governo e partido político são as quatro organizações mais fáceis de se montar e mais difíceis de se encerrarem.Diferentes da força-tarefa, que existe pra cumprir um trabalho e se dissolver depois de cumprir sua razão de ser, grupos desse tipo são "forças-tarifas": extraem tanto lucro de sua força que ganham vida própria e fazem uma raison d'étre sua própria perpetuação. Por que o cachorro abana o rabo? Porque ele é mais inteligente que o rabo. O dia em que o rabo for mais inteligente (contra-inteligente também serve), o rabo é que vai abanar o cachorro.
Não é o sonho americano que esse pessoal busca, é o sonho maçônico de eternidade que qualquer entidade desse tipo busca, inclusive os grupos que exportam o sonho americano para o resto do mundo. Quem lucra de exportar sonhos vive muito além desses sonhos tão pueris, sejam sonhos americanos ou sonhos leninistas. Quando a ditadura militar criou o SNI nasceu um "monstro" (expressão do criador do SNI, Golbery) que conduziu a tônica da própria ditadura, contrariando até mesmo os ditadores. O Collor de Mello em sua demagogia neoliberal extinguiu o SNI, naquela cretinice de "enxugar a máquina pública" (e nem nisso pôde ir até o fim, surgiu a ABIn no lugar). O resultado mais prático foi que todos os ex-"spooks" do SNI abasteceram a CPI do Esquema-PC com os as informações sigilosíssimas que foram decisivas para a derrubada daquele gângster arrogante que supunha, corretamente, aliás, que milionários no Brasil nunca pagam o pato.
A KGB é ao mesmo tempo uma sociedade secreta, uma agência do governo, uma máfia e um partido político. Aliás, consegue ser ao mesmo tempo "o partido da ordem" (conceito que Marx utiliza para designar alianças das classes dominantes que podem incluir mais de um partido eleitoral e várias entidades apartidárias), já que se habituou a reprimir dissidências e manter o "business as usual" da URSS/Rússia, e um sub-produto do PCUS (o que sobrou o partido bolchevique depois que foram destroçados os mencheviques e assassinados os bolcheviques pioneiros).
Sociedade secreta, máfia, agência do governo e partido político são as quatro organizações mais fáceis de se montar e mais difíceis de se encerrarem.Diferentes da força-tarefa, que existe pra cumprir um trabalho e se dissolver depois de cumprir sua razão de ser, grupos desse tipo são "forças-tarifas": extraem tanto lucro de sua força que ganham vida própria e fazem uma raison d'étre sua própria perpetuação. Por que o cachorro abana o rabo? Porque ele é mais inteligente que o rabo. O dia em que o rabo for mais inteligente (contra-inteligente também serve), o rabo é que vai abanar o cachorro.
Não é o sonho americano que esse pessoal busca, é o sonho maçônico de eternidade que qualquer entidade desse tipo busca, inclusive os grupos que exportam o sonho americano para o resto do mundo. Quem lucra de exportar sonhos vive muito além desses sonhos tão pueris, sejam sonhos americanos ou sonhos leninistas. Quando a ditadura militar criou o SNI nasceu um "monstro" (expressão do criador do SNI, Golbery) que conduziu a tônica da própria ditadura, contrariando até mesmo os ditadores. O Collor de Mello em sua demagogia neoliberal extinguiu o SNI, naquela cretinice de "enxugar a máquina pública" (e nem nisso pôde ir até o fim, surgiu a ABIn no lugar). O resultado mais prático foi que todos os ex-"spooks" do SNI abasteceram a CPI do Esquema-PC com os as informações sigilosíssimas que foram decisivas para a derrubada daquele gângster arrogante que supunha, corretamente, aliás, que milionários no Brasil nunca pagam o pato.
Muito bom, Bruno. Pra variar...
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