Menos de uma semana após o discurso sobre o Oriente Médio proferido por Obama no Departamento de Estado, foi a vez de o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dar o troco. E o clima de revanchismo criado pela imprensa foi tão grande, que as expectativas sobre as posições de Bibi aumentaram ainda mais. Houve uma conjunção de elementos que transformaram o discurso de hoje num evento histórico; a interpretação equivocada – proposital ou não – das palavras do presidente americano e, consequentemente, a tensão depositada na resposta oficial israelense. Claro que o líder do Estado judeu sabia disso. E claro que usou a situação a seu favor. Para completar, fez seu pronunciamento ao Congresso enquanto Obama está fora do país.
E Netanyahu abusou de sua habilidade retórica. Diante de representantes democratas e republicanos, foi interrompido 26 vezes pelos aplausos da audiência. E educadamente não apenas respondeu ao presidente americano, mas contestou diante da elite política do país suas afirmações sobre as fronteiras de 1967. Como escrevi no dia mesmo do polêmico discurso de quinta-feira passada, Obama não disse nada de tão controverso assim. Simplesmente verbalizou o plano que tem sido levado adiante por todos os presidentes americanos desde os anos 1990. Mas ninguém prestou atenção quando ele disse que as fronteiras pré-1967 deveriam ser tomadas como base da discussão e que defende trocas mútuas e acordadas de território.
Se Obama conseguiu provocar uma manchete com seu discurso, Netanyahu não deixou por menos. Ofereceu à imprensa internacional uma série de alternativas. Jerusalém não será dividida, os refugiados palestinos deverão retornar para o interior das fronteiras do futuro Estado palestino, Israel não aceitará negociar com o governo palestino que inclua o Hamas etc. Essas são posições históricas do premiê e plenamente conhecidas. Mas há trechos com algumas novidades que mostram um primeiro-ministro disposto a oferecer algo a Obama. Por exemplo, disse com todas as letras estar disposto a aceitar um Estado palestino; reconheceu que, assim como os judeus, os palestinos também precisam de um país. Além disso, deixou claro que alguns assentamentos deverão ser removidos (“Como líder, é minha responsabilidade conduzir meu povo à paz. Não é fácil porque reconheço que numa paz verdadeira deveremos abrir mão de partes da terra ancestral judaica”).
A declaração sobre os assentamentos é especialmente difícil por conta da base aliada que o sustenta no cargo de primeiro-ministro. Possivelmente, será cobrado pelos partidos religiosos de sua coalizão. Netanyahu foi particularmente sagaz ao jogar a bola para o lado palestino. Ele poderia ter prometido o que fosse hoje. Poderia ter aceitado dividir Jerusalém ou mesmo que três milhões de refugiados palestinos (o número inclui filhos, netos e bisnetos dos deslocados a partir da guerra de 1948) recebessem cidadania israelense, não importa. O fato é que, ao deixar claro novamente que não aceita negociar se a Autoridade Palestina fechar acordo de coalizão com o Hamas, ele compartilha o fracasso do processo de paz com os palestinos. E, mais ainda, deposita grandes expectativas e pressão sobre o presidente Mahmoud Abbas (“desfaça o pacto com o Hamas, sente-se e negocie, faça a paz com o Estado judeu; se fizer isso, eu prometo não apenas que Israel será o primeiro país a reconhecer um Estado palestino nas Nações Unidas, mas será também o primeiro país a fazer isso”).
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