O dia de hoje marca a primeira etapa da anunciada vingança da al-Qaeda pela morte de Osama Bin Laden. E nada mais satisfatório, para os terroristas, do que matar 80 civis inocentes. Cidadãos comuns paquistaneses, pobres e sem escolaridade, pagaram com as próprias vidas para vingar a operação americana no Paquistão. Isso faz algum sentido? Para mim, certamente não.
O atentado tem a marca da al-Qaeda. Ou melhor, não há qualquer garantia de que a rede terrorista é, de fato, responsável direta pelo ataque. É confuso mesmo, mas dá para explicar. Como citei muitas vezes – e isso foi amplamente repetido pela grande imprensa nos dias seguintes à morte de Bin Laden –, elementos novos introduzidos pela al-Qaeda são os conceitos de descentralização e franquia aplicados ao terrorismo. Ou seja, basta realizar um atentado e comunicar que se trata de ato cometido por este ou aquele motivo (alinhados à luta antiocidental, especialmente antiamericana, claro), e pronto. Ninguém do alto-comando do grupo vai contestar ou desmentir. A “marca” da al-Qaeda já está impressa.
A maneira de espalhar a marca é bastante simples. No entanto, as manifestações populares do mundo árabe desvalorizaram seu discurso. De uma forma bastante eficaz, os dirigentes do grupo conseguiram enxergar na morte de seu líder uma possibilidade de reinvenção. Se os EUA tiveram enorme trabalho para ter sucesso na operação, é porque a al-Qaeda continua a ser a maior opositora americana. Esta é a premissa na qual seus dirigentes se apoiam para restabelecer algum grau de relevância internacional. A rede terrorista precisa buscar novos aliados, correligionários, simpatizantes e, finalmente, financiadores.
A equação é simples: quanto mais democracia, processo político e liberdade de imprensa, menos a al-Qaeda tem razão de existir. O assassinato de Bin Laden – ou o martírio, como a al-Qaeda tem se referido ao assunto – deu um sopro de vida ao grupo – por mais contraditório que isso pareça. Além disso, um dos objetivos é jogar a opinião pública paquistanesa contra o próprio governo do país. O raciocínio equivocado funciona da seguinte maneira: se Islamabad não tivesse se aliado a Washington, nada disso estaria acontecendo. Ou seja, procura colocar ainda mais pressão no já cambaleante gabinete do presidente Ali Asif Zardari.
E tudo isso acontece justamente no dia em que militares paquistaneses começam a se explicar no parlamento sobre as falhas internas que permitiram a Bin Laden permanecer incógnito nas proximidades da capital do país por tanto tempo. Nunca é demais lembrar que este é o atentado que mais matou neste ano. Os ataques terroristas realizados no Paquistão já tiraram a vida de mais de 4.350 pessoas em quatro anos.
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