quarta-feira, 11 de maio de 2011

Divulgação de documentos reacende polêmcia sobre relacionamento entre Venezuela, Equador e as Farc

Finalmente temos um fenômeno similar ao Wikileaks aqui pela América Latina. Ao contrário, da organização de Julian Assange, que assumidamente se coloca como opositora aos segredos dos governos, o londrino International Institute for Strategic Studies (IISS) declara não se posicionar sobre o assunto. Mas, a dor de cabeça causada pela publicação de um relatório de 240 páginas contendo revelações sobre o relacionamento da alta-cúpula governamental de Venezuela e Equador com as Farc torna absolutamente irrelevante a maneira como o instituto se coloca politicamente. A divulgação das informações colhidas na pesquisa já causou pânico, revolta e ansiedade aos envolvidos.

O ponto que certamente causa mais polêmica é a origem dos dados. Segundo o IISS, uma parte importante das revelações foi obtida a partir do laptop de Raúl Reyes, ex-dirigente das Farc morto em março de 2008 durante uma operação militar colombiana no Equador. Para quem não se recorda do episódio, a escalada dos acontecimentos naquele período quase detonou um conflito militar entre Colômbia, Equador e Venezuela (Caracas considerou a ação um atentado à soberania equatoriana ordenada pelos EUA).

Agora, o primeiro ponto de discussão é a autenticidade dos documentos. A contestação inicial gira em torno das acusações de que o computador de Raúl Reyes foi destruído durante o ataque, portanto não haveria nenhuma possibilidade de recuperar as informações.

Além dos óbvios problemas causados por esta divulgação, este é um momento importante para os interesses no continente. Colômbia e Venezuela passam por um período de reaproximação após os anos de desgaste entre Hugo Chávez e o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. E este estreitamento de relações já frutificou num fato isolado, mas com potencial explosivo. A captura do criminoso venezuelano Walid Makled Garcia (foto). Acusado por tráfico de drogas pelas autoridades venezuelanas, Garcia foi preso na Colômbia. O pedido de extradição foi feito pela Venezuela e – surpresa! – também pelos Estados Unidos. Estranho, certo?

O traficante está na Venezuela desde segunda-feira. Houve, no entanto, uma grande batalha jurídica e política entre Washington e Caracas por sua extradição. Mas por que um simples traficante causou tanto alvoroço? Porque Walid Makled Garcia diz ter provas contundentes do envolvimento de altos funcionários do país com o narcotráfico. O criminoso poderia dar início a discussões ainda mais profundas em Washington sobre novas formas de abordagem à Venezuela. É possível que o relacionamento entre Chávez e o atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, tenha melhorado a partir da extradição de Garcia. Não deixa de ser uma prova de boa vontade – nem que seja simplesmente um gesto que impede mais uma dor de cabeça ao presidente venezuelano.

A publicação das informações pelo IISS pode reacender um debate que já teve muitas idas e vindas nos EUA. Não acredito em planos de intervenção na América do Sul, mas em sanções direcionadas a Chávez. Passou despercebido por aqui, mas, no último dia 4, uma proposta de resolução foi apresentada à Câmara dos Representantes americana: a de incluir a Venezuela na lista de países que patrocinam o terrorismo. Ela segue agora para apreciação do Comitê de Política Externa.

Nenhum comentário: