Bin Laden é história. No entanto, as consequências de sua morte ainda devem influenciar decisões e o cenário mundial por algum tempo. Certamente, o Paquistão é o ator regional mais exposto devido ao episódio de acobertamento do terrorista em seu território. De uma maneira ou outra, as autoridades paquistanesas toleraram a presença do líder da al-Qaeda. Por isso, há possibilidade não apenas de movimentações dos outros atores regionais, mas também de eventual pressão americana sobre o governo de Islamabad.
Em períodos eleitorais, as demandas populares se tornam ainda mais urgentes. Nos EUA, a situação fica mais complicada: de fato, o país agora vive algum relaxamento, mas também o início da campanha presidencial. Com a morte de Bin Laden neste momento estratégico – acrescido do potencial de comoção pelos dez anos dos atentados mais graves cometidos em solo americano -, restam poucas alternativas ao partido Republicano para contestar a atuação de Obama na guerra contra o terrorismo. E afirmo isso porque pesquisa do instituto Gallup mostra que 54% da população acreditam que agora o país está mais seguro em relação a ameaças terroristas. Há muito campo de insatisfação interna nos EUA, mas não seria prudente atacar a política externa do atual presidente neste momento específico.
Uma alternativa viável de contestar a atuação internacional de Obama é mirar no Paquistão. E, sem a menor dúvida, há muitos republicanos dispostos a questionar a ajuda de 18 bilhões de dólares destinada por Washington a Islamabad desde 2001. E aí não importa que o mandato de Bush tenha se estendido até 2008. O que vale é a percepção, uma vez que ela é determinante na escolha dos eleitores. E por mais equivocada que seja, a equação é bastante simplória: a Casa Branca transfere dinheiro – muito dinheiro – a um governo que acobertou Osama Bin Laden. E não é preciso dizer como este discurso é poderoso, principalmente num período de austeridade econômica.
Enquanto a América perde dinheiro, Obama entrega o resultado do trabalho americano – os impostos – a Estados falidos. É claro que o Paquistão é o país que mais prendeu terroristas e membros do Talibã. É também o lugar onde mais vidas se perderam devido ao terrorismo. Mas certamente o partido Republicano irá omitir tais informações durante a campanha. Principalmente porque contestar a maneira como o governo americano gasta os impostos atende muito bem ao discurso do movimento político mais conservador dos EUA: o Tea Party. Se a barulhenta ala Republicana impede o presidente americano de estender a cobertura de saúde aos cidadãos do país, o que dirá do repasse de recursos a um lugar distante e ignorado pela maior parte da população como o Paquistão?
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