Criado em 1975 inicialmente para reunir as seis maiores economias do mundo naquela época, o G6 se transformou em G8 – e se consolidou como tal – em 1997, quando seus membros admitiram a entrada da Rússia. Desde então, o grupo conta com França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, EUA, Canadá e Rússia. O encontro que se inicia nesta quinta-feira, na cidade costeira francesa de Deauville, é, no entanto, uma aberração. Não pela conferência ou devido às muitas discussões entre os líderes desses países, mas pela própria existência do G8.
É curioso notar o apego dos governos ao G8. Aliás, curioso não é o termo mais preciso. Seria melhor dizer sintomático, quase natural. Quando os principais representantes deste velho mundo transatlântico se encontram num aconchegante resort francês eles simplesmente demonstram a insistência em negar o óbvio: nem Europa, nem EUA podem monopolizar as regras da política e – menos ainda – da economia. Por mais estonteante, emblemático e glamoroso que tais reuniões sejam, elas hoje têm muito menos impacto do que no século 20.
Na verdade, a própria reunião atual tem dentre seus principais objetivos retomar parte da importância perdida por americanos e europeus (o Japão entre no bolo como representante deste velho mundo). É por isso que há muito simbolismo político; os países pretendem discutir de tudo: economia, ajuda mútua, invasão à Líbia, auxílio aos governos que emergiram da Primavera Árabe, o processo de paz no Oriente Médio. Tudo gira em torno de reconquistar protagonismo nesses tempos de ascensão política e econômica dos países em desenvolvimento.
O problema é que será preciso mais que discurso para mostrar alguma importância. Uma medida importante seria aportar valorosos pacotes financeiros no Egito e na Tunísia – apenas para começar. Esta é a ideia de Barack Obama – apresentada, inclusive, no discurso sobre o Oriente Médio de semana passada. Esta mesma iniciativa foi defendida publicamente pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy. A questão é que todos os membros europeus do G8 estão quebrados financeiramente ou atravessam momentos de profunda crise e austeridade. Vai ser difícil convencer as populações desses países quanto a real necessidade de um grande repasse deste tipo justamente agora.
A edição deste ano do G8 contou com as participações dos sócios e criadores do Google e Facebook para debater a importância política da internet. Esta é uma evolução incontestável, sem a menor dúvida. E também é uma leitura correta sobre as rápidas mudanças da dinâmica atual. Os Estados nacionais estão longe de representaram os únicos atores geopolíticos relevantes. O G8 acerta ao reconhecer o óbvio. O problema é que esta interpretação da realidade não se estende ao resto. Excluir China, Índia e Brasil de qualquer discussão mundial torna o resultado do fórum incipiente. Para fazer uma comparação esportiva, o G8 é como uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina. Aliás, isso já existe, chama-se Eurocopa. Nada é por acaso.
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