Curiosamente, a morte de Bin Laden deixou muito evidente a importância do Paquistão. E não apenas aos EUA, como poderia soar óbvio. Há muitos fatores que constituem esta centralidade: a posição estratégica do país, sua vulnerabilidade simultânea à posse de armamento nuclear e suas reservas naturais.
Por conta disso, há gente demais interessada no que vai acontecer daqui para frente. E com razão. Para compreender a realidade paquistanesa, é preciso, antes de tudo, destacar o peso do exército nacional. Desde os anos 1970, as forças armadas não são mero aparato de defesa, mas também atuam como guardiões do Estado. Não se pode chamar isso de confusão, mas de forma distinta de encarar os militares. Há uma simbiose entre eles , os cidadãos e o próprio governo. O exército assegura a prevalência do islã – fundamental à identidade nacional –, defende o Paquistão diante das ameaças da Índia (e todo o histórico de batalhas entre os países) e muitas vezes assume as rédeas do país.
O que acontece agora é muito complicado. Se para o Ocidente houve falhas dos serviços de inteligência e do exército quando nenhum dos aparatos de segurança identificou a presença de Bin Laden nas proximidades de Islamabad, os paquistaneses não compreendem as críticas pontualmente. Para eles, há um questionamento internacional da instituição mais importante do país que resume boa parte do sentimento e expectativas nacionais. E esta certamente não é uma discussão simples. Por isso o governo paquistanês tenta “democratizar” o erro, afirmando que o desconhecimento quanto ao paradeiro do terrorista mais procurado do mundo reflete um problema mundial, não exclusivo do Paquistão.
Ao mesmo tempo, o foco sobre Islamabad acende alertas regionais importantes. A China, por exemplo, teme que eventual decadência do Estado paquistanês e ascensão dos fundamentalistas ameacem as rotas energéticas da Ásia Central. A Rússia está aflita pelo mesmo motivo, mas também porque considera a região ainda sua área de influência (nada mais típico dos egos superinflados de Medvedev e Putin). Curiosamente, esta percepção russa acabou por colocar Moscou ao lado da Otan (e todo mundo sabe como o país se contrapõe à organização ainda hoje) por temer que a retirada das tropas no Afeganistão transforme novamente a região num caos de oportunidade para o recrudescimento do fundamentalismo.
Enquanto isso, os EUA têm motivos reais de preocupação. Washington pode pressionar o Paquistão. Mas somente até certo ponto. Não há qualquer alternativa viável às rotas paquistanesas que fornecem suprimentos aos soldados estacionados no Afeganistão. Houve tantos gestos, diretrizes, ordens e movimentações nos últimos dez anos por conta da guerra ao terror que todos os países se tornaram diretamente engajados e articulados a interesses mútuos. Quem poderia imaginar que a Rússia estaria do mesmo lado da Otan? Ou que China e EUA partilhassem a mesma preocupação sobre o futuro do Paquistão?
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