A notícia do dia no Oriente Médio é a possível reaproximação entre Turquia e Israel. Apenas um mês após a relação entre os países atingir seu pior momento, autoridades turcas e israelenses se encontraram nesta quarta-feira em Bruxelas. O ocorrido mostra bem como a política é, antes de mais nada, um exercício de superação ideológica e reafirmação dos interesses meramente pragmáticos. Vale dizer também que o presidente Barack Obama foi o grande incentivador da reunião.
A reconciliação é de total interesse americano. Em primeiro lugar, porque é melhor ter a Turquia como aliada do que como inimiga. Se não puder aplicar tal maniqueísmo, que, ao menos, os aliados de Washington possam evitar confrontos diretos com Ancara. Esta é a posição, até porque já se admite a independência de posicionamento turca. Se era isso que o país queria ao pender para o lado iraniano, é isso que terá. Sem dúvida, o prejuízo é bem menor do que bancar conflitos retóricos e correr o risco de perder um grande interlocutor no mundo islâmico – pelo menos, no ponto de vista dos EUA.
Em relação a Israel, a divulgação do encontro com os turcos tem outro objetivo: após muito tempo, os israelenses parecem ter usado uma bela estratégia de relações públicas. Basta notar que o encontro ocorreu entre o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, e o ministro do Comércio de Israel, Benjamin-Ben Eliezer (em foto de arquivo). A lógica hierárquica levaria a crer que o interlocutor óbvio desta conversa seria o polêmico ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.
Como Lieberman é detestado nos países islâmicos, nada melhor do que enfraquecê-lo publicamente e ganhar pontos com os turcos. A imprensa israelense informa que ele teria ficado furioso com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por sequer ter sido informado do plano. Acho que seria um tanto sofisticado dizer que se trata de uma encenação por parte de Lieberman, mas parece ter sido uma grande jogada de Bibi. Aliás, duplamente. Ao enviar Ben-Elizer, ele também desvaloriza o ministro da Defesa, Ehud Barak, do Partido Trabalhista. Ou seja, Netanyahu prestigia a Turquia graças ao enfraquecimento de dois dos seus principais adversários internos.
Vale citar que a reunião também atende a objetivos políticos da Turquia. Como escrevi anteriormente, a manutenção dos laços com Israel é um ponto de atrito entre o governo atual (de raízes islâmicas) e seus principais críticos, as forças armadas. Como o exército do país se considera o grande guardião do laicismo oficial do moderno Estado turco (fundado por Kemal Ataturk), Israel acabou se transformando numa batalha entre oposição e situação; entre os defensores de um país não vinculado formalmente a preceitos religiosos e os que acreditam que o islamismo deve ter alguma influência nas diretrizes políticas do país.
O fato de, por ora, a reunião entre Ben-Eliezer e Davutoglu não ter alcançado nenhum resultado palpável é o que menos importa. As marolas provocadas pelo acontecimento são muito mais importantes.
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