terça-feira, 13 de julho de 2010

Atentados em Uganda: qualquer um é inimigo

A situação de Uganda é trágica. Os atentados coordenados que mataram até agora 76 pessoas em Kampala, capital do país, neste domingo, é uma mostra disso. O terrorismo fundamentalista é o responsável pela situação. Segundo se sabe até o momento, a intenção do al-Shabab, grupo que assumiu a autoria dos ataques, era detonar os explosivos durante a Copa do Mundo, na África do Sul. Como não conseguiu, optou por atingir civis que assistiam à final num telão instalado na capital de Uganda. E este é um ponto que me parece interessante explorar.

Como costumo escrever por aqui, a sociedade ocidental tem enorme necessidade de entender logicamente os acontecimentos. Mesmo sendo absolutamente inaceitável, muitas vezes tentamos aplicar este raciocínio a atos como os que ocorreram no domingo. Os terroristas sabem disso. E exploram ao máximo esta fragilidade. Ou melhor, não se trata de fragilidade, mas de um importante traço de humanidade. Afinal, na prática, esta nossa forma de pensar reflete a incapacidade de aceitar o terrorismo simplesmente como expressão da mais pura e irracional violência, certo?

Um dos líderes do al-Shabab, o xeque Yusuf Isse, deu a seguinte declaração ao britânico Telegraph, logo após os atentados:

"A Uganda é um dos principais governos infiéis que apoiam o chamado governo da Somália. Sabemos que a Uganda é contra o islã e por isso estamos muito felizes quanto ao ocorrido em Kampala. São as melhores notícias que já escutamos", disse.

Ou seja, a justificativa é de que o país é contra o islã. Da mesma maneira que a África do Sul também seria. E o que é ser contra o islã? Simplesmente, não apresentar maioria populacional muçulmana? Ou não aplicar a sharia? As palavras de Isse são vagas e dão uma dimensão perturbadora a atos como os cometidos pelo al-Shabab: qualquer país ao alcance de grupos terroristas pode ser vítima de sua ações.
Existe uma explicação mais direta para o ocorrido. O governo de Uganda foi o primeiro a se comprometer com o envio de soldados para a missão da força de paz da União Africana na Somália.

O jornalista Jeevan Vasagar, do britânico Guardian, tem outra interpretação para os atentados. Muito mais racional, continua sem responder à principal dúvida: se um país quisesse satisfazer terroristas do al-Shabab, o que poderia ser feito para livrar sua população de ataques como os do último domingo? A ausência de uma resposta mostra que o terrorismo não apresenta justificativas, apenas desculpas para continuar a agir.

"Um dos alvos, o Ethiopian Village Restaurant pode ser uma pista. Forças etíopes entraram na Somália em 2006 e acabaram com a União das Cortes Islâmicas (que atuava no país)", escreve.

Explica, mas não responde ao principal questionamento.

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