A disputa entre Irã e EUA tem adquirido contorno parecido aos confrontos indiretos entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. Nenhum dos dois países pretende entrar numa guerra aberta. Todos têm muito mais a perder do que a ganhar. Fica claro, no entanto, que ambos os governos consideram-se mutuamente suas próprias antíteses. E buscam influenciar, negligenciar, desqualificar o outro.
As acusações por parte de Teerã de que Washington estaria por trás dos atentados ocorridos no Irã na última quinta-feira são apenas o exemplo recente desta prática. O grupo sunita Jundallah, que assumiu a autoria dos ataques responsáveis pela morte de 28 pessoas (na região mostrada no mapa), pode até contar mesmo com apoio americano. Não creio, no entanto, que o presidente Obama soubesse dos condenáveis planos dos atentados que atingiram civis inocentes. Não apenas por questões éticas, mas porque a Casa Branca não se arriscaria somente em nome do objetivo de desestabilizar o Irã.
Acredito que o Jundallah - do qual já tratei em textos anteriores. Leia aqui - tenha apoio logístico americano. Porque se trata de um grupo sunita e é esta a grande guerra em curso na região. Como se sabe, os EUA apoiam o eixo sunita. O Irã é sustentado por estados xiitas e sunitas que enxergam nos objetivos de Teerã a oportunidade de mudança dos paradigmas de poder e hegemonia no Oriente Médio.
Vale lembrar que o regime de Ahmadinejad ainda se depara com problemas internos. E eles podem representar os maiores entraves a suas ambições internacionais. Os atentados da semana passada são um exemplo. Mas há outros, muito embora mereçam pouca divulgação - por conta até das restrições ao fluxo de informação impostas pelo governo. Alguns dos acontecimentos recentes: o incêndio de uma refinaria na cidade de Abadan, no sul do país; o assassinato de um importante membro do regime, em Damasco, na Síria; explosões em partes da prisão de Evin, em Teerã, onde se encontra boa parte dos presos políticos.
Ou seja, apesar do aparente clima de normalidade, há muita agitação conduzida pelos opositores de Mahmoud Ahmadinejad. Acredito que, por conta disso, Ahmadreza Radan, oficial de alta patente da polícia iraniana, defenda o direito de seu país de procurar rebeldes e membros do Jundallah no Paquistão. Não apenas é uma forma de encontrar um problema externo - uma velha fórmula usada para unir o país em torno do governo -, mas também busca atingir a política regional americana. Afinal, o Estado paquistanês é um importante aliado de Washington na região: recebe, anualmente, 1,5 bilhão de dólares do governo dos EUA.
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