quarta-feira, 7 de julho de 2010

Como Obama resolveu seus problemas no Oriente Médio

Ainda sobre o encontro entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente americano, Barack Obama, é preciso saber que todos os caminhos levam ao aumento da pressão sobre o premier de Israel. Não apenas a Turquia – como escrevi no texto de ontem – pretende mudar a política interna do Estado judeu. Este é o desejo dos palestinos e também da Casa Branca.

Netanyahu é visto pelo governo Obama como um impedimento ao grande projeto de reconciliação com o mundo árabe e muçulmano. Para Washington, Bibi é o responsável pela manutenção dos assentamentos e também por alçar a protagonista o polêmico ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman. Para os EUA, Tzipi Livni, do Kadima, seria o perfil ideal para ocupar a liderança em Israel. Mas mudar a política interna israelense é complicado. Pelo menos, era.

Com a economia em ascensão e o terrorismo controlado, Netanyahu usufruía de certo período de calmaria. Não havia motivos para se desgastar em negociações de paz com os palestinos. Mas isso mudou. O episódio da Frota da Liberdade colocou novamente o bloqueio a Gaza em foco. A situação permitiu a Washington pensar em alternativas para se livrar de Bibi. E o governo Obama encontrou. Graças à ajuda do presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Como grandes patrocinadores do processo de paz, os EUA exigem novas rodadas de negociações. E aí vem o complemento palestino. O presidente Abbas só admite se reunir pessoalmente com Netanhyau se o líder israelense concordar em congelar a construção de assentamentos na Cisjordânia. Para Bibi, esta é uma tremenda dor de cabeça, uma vez que a coalizão que sustenta seu governo apoia amplamente o projeto de manter colônias judaicas no território. Se Netanyahu ceder à pressão americana, cai. Sua coalizão entra em colapso e novas eleições serão convocadas em Israel. É tudo o que Obama mais quer.

Da parte de Netanyahu, no entanto, é preciso mostrar algo aos americanos. Por isso enviou seu ministro da Defesa, Ehud Barak, para conversações com o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad. Por isso também insiste na necessidade de se encontrar pessoalmente com Mahmoud Abbas.

Além de não considerar Bibi um interlocutor confiável, o presidente palestino sabe quem tem muito a perder diante de sua opinião pública.

Há dez anos, como lembra o jornal Haaretz, o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak, oferecia ao presidente palestino à época, Yasser Arafat, discutir o status de Jerusalém e debater as fronteiras definitivas de Israel e do futuro Estado palestino. Mesmo ao próprio Mahmoud Abbas, o ex-premier israelense Ehud Olmert ofereceu 98.1% de toda a Cisjordânia. Nenhuma resposta positiva foi dada pelos líderes palestinos. Hoje, Netanyahu quer negociar com Abbas entre 40% e 60% do território - oferta bem menos abrangente.

Para o presidente palestino, sentar-se com Netanyahu é admitir a derrota política. Para Netanyahu, negociar com Abbas é dar um grande passo para mostrar algo de relevante para os americanos. Para Obama, a situação quase que se resolveu por si: basta aguardar para colher os frutos. Se Bibi decidir optar pelo congelamento da expansão dos assentamentos, vitória da Casa Branca. Se cair por causa disso, ainda melhor para o presidente americano
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