O desaparecimento e o retorno a Teerã do cientista iraniano Shahram Amiri (foto) se tornou mais um caso misterioso do cenário internacional. Curiosamente, uma semana após o desfecho da troca de espiões entre EUA e Rússia. Tratam-se de casos parecidos, mas não iguais. Ao que parece, não haveria um plano de concretizar um acordo - mesmo que sigiloso - entre a Casa Branca e o governo de Mahmoud Ahmadinejad. Muito embora houvesse suficiente material humano para eventual projeto do tipo.
Haveria possibilidade de o sumiço de Amiri estar relacionar, de alguma maneira, aos três jovens americanos mantidos prisioneiros no Irã desde 2009. Não parece ser este o ponto. Pelo menos não após a publicação de reportagem na edição de hoje do Washington Post. Segundo a matéria, o cientista teria recebido 5 milhões de dólares da CIA para revelar segredos sobre o programa nuclear iraniano.
E isso faria algum sentido. Ainda mais quando levamos em consideração que ele desapareceu durante peregrinação religiosa na Arábia Saudita, há 14 meses. É importante mencionar a grande parceria mantida entre sauditas e americanos - bastante polêmica, por sinal. De forma a não levantar suspeitas para o sempre vigilante regime iraniano, nenhum plano me parece mais coerente do que deixar o Oriente Médio rumo aos EUA a partir do país que abriga as cidades de Meca e Medina, as duas cidades mais importantes para o islamismo.
O cientista teria entrado em território americano através de um programa clandestino conduzido pela própria CIA. A agência de inteligência pode levar para o país até 100 pessoas sem que elas necessitem passar pelos procedimentos legais de imigração. Resta uma pergunta importante sobre isso tudo: com 5 milhões de dólares na conta e o futuro garantido, por que Amiri teria decidido retornar para o Irã?
Porque a família do cientista continuava em solo iraniano. Quando as autoridades da república islâmica se deram conta de seu desaparecimento, bastou encontrar o filho de Amiri para reverter a situação. E agora é só juntar os pontos. Receoso quanto ao futuro dos que ficaram para trás, ele não viu alternativa a não ser inventar toda a história de sequestro. Foi um gesto de desespero para salvar seus familiares.
O problema é que seus momentos de glória como herói nacional no Irã devem ser bastante breves. Como possivelmente as autoridades do país já devem estar cientes de sua colaboração com os EUA, o destino do cientista, na melhor das hipóteses, deve ficar relegado ao ostracismo. Isso se as consequências não forem ainda piores.
Diante das opções que tinha diante de si, não se pode nem condenar as decisões que tomou. Seus dias de desespero ao aceitar o acordo com os americanos muito provavelmente variavam entre duras escolhas: a riqueza solitária e culpada no ocidente com a real possibilidade de nunca mais poder ver a família; ou retornar ao Irã, perder todos os ganhos financeiros obtidos, mas tentar proteger o filho de alguma maneira.
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