Definitivamente, a visita do presidente russo, Dmitry Medvedev, ao Brasil é repleta de significados. Mas, sob o ponto de vista da atual política externa de Moscou, o evento é apenas uma engrenagem de um grande motor cujos objetivos ainda não estão absolutamente claros para os demais países.
Oficialmente, Medvedev estará em solo brasileiro para buscar a assinatura de acordos comerciais nas áreas de defesa e cooperação militar. Como o Brasil busca renovar a frota de jatos da Força Aérea Brasileira (FAB), muita gente está interessada em visitar o país. Afinal, a venda de pelo menos uma centena de aviões desse tipo e de outros equipamentos envolve cifras que possivelmente chegarão à casa de bilhões de dólares.
Entretanto, os aviões de fabricação russa Sukhoi não estão incluídos na fase final de avaliação das autoridades brasileiras porque a Rússia enxerga o Brasil apenas como comprador, e não pretende transferir tecnologia militar ao país. "Estamos muito mais avançados em nossa parceria estratégica com os franceses", disse o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. "Queremos importar tecnologia e inteligência, não trabalho bruto", complementou o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Seguramente Medvedev já conhece essa posição. Mas ele vem ao Brasil também para marcar posição num momento em que a Rússia está cada vez mais isolada politicamente. O grande acontecimento da estratégia de relações internacionais russa na América-latina seguramente não é a visita ao Brasil. Mas a chegada de uma frota de navios à Venezuela para a realização de exercícios militares conjuntos - Chávez anunciou em julho deste ano que pretende comprar 30 bilhões de dólares em armamentos de Moscou.
Muitos observadores acreditam que a aproxamiação com a América-latina é uma tentaiva de escapar das armadilhas que o próprio governo russo criou na Europa, uma vez que a Rússia hoje está "cercada" por ex-repúblicas soviéticas filiadas à OTAN.
A aliança com Venezuela, Cuba e Brasil pode ser uma maneira de chamar a atenção dos Estados Unidos e confrontar os norte-americanos em sua área de influência. Mas os termos usados agora estão obsoletos. Não apenas pela passagem do tempo, como também por uma significativa mudança na dinâmica internacional.
Por isso, é simplesmente impossível reviver o período e os conceitos da Guerra Fria, mesmo que Medvedev e o primeiro-ministro Putin sonhem com isso todas as noites. Por várias razões: os Estados Unidos já não têm como diretriz a divisão do mundo com a Rússia. Simplesmente, o governo norte-americano não pode e não quer retornar para o velho jogo de xadrez interplanetário.
Principalmente, a Rússia já não é uma superpotência há muito tempo; muito pelo contrário. Há novos atores internacionais que hoje influenciam as decisões estratégicas do planeta muito mais que a Rússia, como os grupos terroristas, as organizações multilaterais (como a União Européia, por exemplo) e a própria difusão instantânea de informação e comunicação.
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Em tempo - A Rússia pretende abrir escritórios da Gazprom por aqui - a gigante de petróleo e gás russa. A empresa é uma das aliadas da política atual de Medvedev e do presidente Vladimir Putin, que, graças à grande reserva desses recursos, continua a ter o mínimo de diálogo com os países europeus. Mesmo que para realizar essas transações comerciais os países consumidores se vejam levados a fechar os olhos para abusos do Kremlin, como o assassinato de jornalistas - foram 13 mortos durante o período em que Putin foi presidente (leia mais sobre a morte de Anna Politkovskaya aqui).
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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