Artigo publicado no The Guardian pelo jornalista inglês Jonathan Freeland comenta as declarações feitas por Obama ao The Washington Post sobre seu compromisso de continuar em busca de Osama Bin Laden e seus aliados da al-Qaeda.
Enganaram-se completamente os que acharam que as críticas do presidente eleito à Guerra contra o Terror empreendida por Bush poderiam significar a relativização da posição dos Estados Unidos quanto ao terrorismo. Pelo contrário.
Um dos pontos fracos da campanha de Obama foi justamente a questão da segurança. Por isso, não é de se estranhar que o novo líder norte-americano comece a bater nesta tecla. Estrategicamente, a equipe de assessores que o cercam está empenhada no esforço de preencher qualquer vácuo que possa dar margens a críticas no início do próximo governo.
Freeland argumenta também que a eleição de Obama dificultou a argumentação anti-americana. Além do seu nome, da história de sua família e de suas origens, o democrata já declarou que pretende ordenar a retirada das tropas americanas do Iraque num processo gradativo a ocorrer num período de 16 meses.
Entretanto, deixando o Iraque e tendo como objetivo máximo capturar Bin Laden e desmantelar a infra-estrutura da al-Qaeda, Obama já declarou que pretende realizar operações no Afeganistão e nas áreas tribais do Paquistão, onde se acredita que o líder da organização terrorista está escondido.
Ora, mudar o teatro de operações para o Paquistão é uma aposta arriscadíssima, ainda que tenha o objetivo concreto de capturar bin Laden. A notícia que vazou nesta semana dando conta de operações secretas dos EUA em diversos países – inclusive no maior aliado americano na região – apenas confirma as suspeitas do próprio governo paquistanês, cujo primeiro-ministro deixou claro que reprova a transgressão da soberania de seu país.
Não se sabe, todavia, se a equipe de transição do futuro governo já iniciou contatos com os países aliados. Entretanto, será bastante complexo convencer as autoridades paquistanesas a permitir a entrada de tropas americanas para combater terroristas da al-Qaeda e do Talibã em seu território. Muito porque seria admitir a ineficiência do Estado em controlar rebeldes e demais grupos que, recentemente, vem atacando o país com atentados em série.
Além do mais, do ponto de vista estratégico regional, o Paquistão precisa demonstrar força diante de seus rivais Índia e Irã. As declarações de Obama podem significar o início de um jogo bastante complexo de ser vencido.
Mas talvez seja aí que o capital de simpatia mundial do futuro presidente americano possa fazer a diferença para, graças a ele, convencer os demais líderes mundiais da nobreza de seus objetivos.
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