segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Os resultados das eleições venezuelanas na imprensa mundial

Mais interessante do que analisar os resultados das eleições regionais na Venezuela é ler as manchetes dos jornais de todo mundo e perceber como a cobertura da imprensa pode ser, digamos, criativa ao tratar de algo tão objetivo quanto os números finais de uma votação.

Antes, porém, de apresentar como a parte mais importante da imprensa mundial tratou desse assunto, é preciso dizer claramente que os candidatos aliados de Chávez venceram em 17 dos 22 estados venzuelanos. E vale também lembrar que, ao contrário daqui, na Venezuela o voto não é obrigatório. Na votação deste domingo, 65% dos 17 milhões de eleitores compareceram às urnas.

Com um discurso provocador, anti-americano, polêmico, assumidamente socialista e repleto de slogans, Chávez conseguiu atrair atenção mundial. Ah, além disso, ele não esconde de ninguém seu longo projeto de poder e também faz alianças com países de declarada oposição aos Estados Unidos.

Dito isso, não se pode absolutamente reclamar da extensa cobertura internacional das eleições venezuelanas. Foram editoriais de todos os tipos, além de matérias que fazem um balanço dos resultados de acordo com o olhar que mais convém a cada veículo.

Comecemos por aqui. O jornal O Globo publica a seguinte manchete: "partido de Chávez vence eleições em 17 estados da Venezuela". O texto, entretanto, lembra da vitória da oposição e explica como o presidente venezuelano perdeu em estados onde vivem 65% dos eleitores.

O grupo de comunicação britânico BBC é menos sutil: "oponentes de Chávez obtêm ganhos nas urnas". O subtítulo lembra, entretanto, que os aliados do presidente foram vitoriosos em 17 estados. Já o também britânico The Guardian opta por ressaltar a vitória do presidente venezuelano. "partido de Chávez domina eleições regionais" é a manchete do jornal que também publica a entrevista do cientista político local Luis Vicente Leon para quem os resultados foram sensacionais para a oposição.

O jornal mais importante do mundo, o The New York Times, deixa claro para qual lado pende - uma tendência do jornalismo norte-americano de honestamente admitir parcialidade. "oposição venezuelana ganha em votos", diz a manchete. A matéria recorda ainda que os resultados de domingo foram o que a publicação americana chama de a segunda derrota recente de Chávez após a população do país recusar, em dezembro de 2007, a mudança constitucional que acabaria com os limites para reeleições presidenciais. Também publica as análises de Luis Vicente Leon - o mesmo entrevistado pelo Guardian.

Já a rede de notícias CNN aborda o resultado de maneira diferente. "Chávez passa pelo teste dos votos", diz a manchete. O texto analisa os resultados, entrevista um cientista político que expõe as intenções de permanência do poder do presidente e também cita os ganhos da oposição.

Chávez talvez tenha conseguido mais do que simplesmente as sucessivas reeleições ou, em menor grau, os últimos resultados nas urnas. Hoje ele é um popstar de controvérsia capaz de atrair a atenção dos veículos de comunicação mais importantes do mundo. Muito possivelmente, isso o agrada bastante. Mais até do que os mandatos presidenciais.

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