Relatório divulgado nesta sexta-feira pelo Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos aponta mudanças em pontos-chave da economia, relações internacionais e poderio militar no mundo. O estudo - cujo nome oficial é Tendências Globais 2025 - procura sugerir caminhos para que o governo americano esteja preparado para lidar com a alteração na dinâmica do eqüilíbrio de forças e também para o surgimento de novas potências planetárias.
Algumas conclusões da pesquisa estão longe de surpreender. É o caso, por exemplo, da decadência da economia americana - mais evidente do que nunca - e da possibilidade concreta de o mundo se tornar multipolarizado devido ao crescimento militar de países como Índia e China, e, até mesmo, de o Brasil ocupar um papel econômico importante num planeta que vai precisar se acostumar à escassez de recursos.
Por mais interessante que sejam essas previsões - aliás, a proximidade de dezembro parece detonar esse aparente instinto humano de tentar adivinhar o futuro, mesmo quando ele surge cercado de rigor científico, como é o caso desta pequisa -, sempre tendo a analisá-las com um certo ceticismo. Afinal, a humanidade é tão criativa, e as mudanças vêm acontecendo com tamanha rapidez, que previsível mesmo é que algum grande acontecimento pré- 2025 desmorone parte das tais tendências divulgadas pelo Conselho Nacional de Inteligência.
Isso já ocorreu antes, afinal esses estudos são realizados a cada cinco anos. E os enganos já foram muitos, como recorda o jornalista da BBC Paul Reynolds.
"Em 1980, Ronald Reagan disputava as eleições presidenciais com Jimmy Carter. Uma das bandeiras de campanha de Reagan era a necessidade de preparar os Estados Unidos, uma vez que o país estava próximo de ser ultrapassado por União Soviética e Japão. Naquela época, o Japão representava uma ameaça à liderança econômica americana semelhante à exercida hoje pela China", escreve.
Ninguém imaginava, entretanto, que numa garagem do subúrbio um jovem e desconhecido Bill Gates começava a revolucionar o planeta com o surgimento da nova e poderosa indústria dos computadores pessoais.
Voltando às previsões divulgadas nesta sexta-feira, o estudo também aponta a tendência da diminuição do poder da al-Qaeda. Segundo o relatório, isso deve acontecer por três importantes fatores: ideologia inflexível, objetivos estratégicos inatingíveis e dificuldade em se tornar um movimento de massa. De fato, é cada vez maior a impopularidade do grupo no mundo muçulmano.
Além de todos esses argumentos, a eleição de Barack Obama esfriou o discurso anti-americano - a principal luta da al-Qaeda, já que seus membros não admitem qualquer possibilidade de diálogo, acordo, deposição de armas etc. Em boa parte, a perda de popularidade entre os próprios muçulmanos explicaria o desespero da mensagem divulgada nesta semana atacando Obama ao chamá-lo de traidor da causa negra. Não deixa de ser uma tentativa de motivar os radicais ou mesmo radicalizar aqueles que se mostrariam favoráveis a um diálogo com Obama.
De qualquer forma, além das previsões óbvias, o estudo soa mais como um documento curioso para nos surpreendermos daqui a alguns anos quando pudermos checar quantas variáveis apareceram no meio do caminho até 2025. Mas é bem possível que ele sirva de diretriz para certas decisões ou abordagens políticas mais imediatas da Casa Branca.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
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