Quarta-feira movimentada na disputa entre Irã e o Ocidente. Pelo menos três grandes acontecimentos marcam o dia de hoje como um dos mais importantes da história recente do mais importante jogo internacional do momento. Até o Brasil acabou por entrar nessa. Depois do encontro entre Obama e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em Washington, o New York Times levantou a bola de que Celso Amorim teria sido abordado pela secretária de Estado, Hillary Clinton, sobre os investimentos da Petrobras no Irã. Segundo o jornal, a empresa brasileira teria investido cem milhões de dólares em prospecção de petróleo para o Irã no Golfo Pérsico.
Mas este é um fato periférico, na medida em que a Petrobras entra no bolo de companhias que, apesar de terem recebido empréstimos do governo americano, ainda insistiriam em manter parcerias com o Irã. Como o cerco ao programa nuclear de Ahmadinejad e Khamenei está se fechando, a Casa Branca trata de divulgar os resultados do mapeamento que tem feito para descobrir todas as brechas comerciais de Teerã.
Para contra-atacar, a República Islâmica decidiu enviar hoje o negociador chefe dos interesses atômicos do país para a China. Saeed Jalili tem por objetivo convencer os chineses – principais parceiros econômicos dos iranianos – a desistirem de aprovar a nova rodada de sanções que tem sido costurada pelos EUA. O gesto pode ser interpretado como uma resposta ao pedido formal por parte dos oito ministros das Relações Exteriores dos membros do G8 de pressionar o programa nuclear do Irã. Para lembrar, os membros do G8 são: EUA, Canadá, Reino Unido, Rússia, Itália, França, Reino Unido e Alemanha. Não duvidaria que, por interesses econômicos e estratégicos, a China decidisse rever sua posição de aprovar as sanções propostas pelos americanos.
Como é preciso respaldar com dados a posição contrária a Teerã, a Direção Nacional de Inteligência (DNI) – órgão americano que representa as 16 agências de inteligência do país – encaminhou relatório ao Congresso em que reafirma as intenções iranianas de desenvolver armas nucleares, apesar das recorrentes falhas em suas centrífugas. O documento joga mais lenha na fogueira dos conflitos no Oriente Médio ao relatar o crescimento do tráfico de armamento iraniano para o Hezbolah através da Síria.
Esta última informação pode provocar ainda mais complicações para Obama, já que serve como sustentação ao argumento israelense de que não restaria alternativa senão atacar o Irã. Se isso acontecesse, dois objetivos poderiam ser alcançados: frear as ambições nucleares do país, além de interromper ao menos temporariamente o fluxo de equipamentos militares para o Hezbolah.
Para completar, o cientista nuclear iraniano Shahram Amiri desertou para os EUA. Envolvido no programa atômico de Ahmadinejad, ele estava desaparecido desde junho passado. Agora, segundo a ABC News, ajuda os americanos com informações sobre o desenvolvimento nuclear de seu país. Sem a menor dúvida, diante de tantas frentes que foram abertas hoje, uma enxurrada de novos acontecimentos está por vir.