Que Síria e Irã são parceiros de longa data não é novidade para ninguém. Na última semana, seus respectivos líderes trataram de reafirmar esses laços publicamente. De forma curiosa, o xadrez da geopolítica no Oriente Médio está mais claro, com cada um dos lados dando passos ousados na tentativa de cooptar as peças em jogo. E foi este o teatro armado em Damasco na última semana, num encontro entre os "democratas" Mahmoud Ahmadinejad, Bashar Assad, presidente sírio, e o líder do Hezbolah, o xeque Hassan Nasrallah.
Sempre é importante lembrar o cenário que cerca essa grande disputa. De um lado, estão os Estados sunitas - Egito, Jordânia e Arábia Saudita, os mais importantes - e do outro, os xiitas Irã, Síria - que é laico, mas cuja minoria xiita é bem próxima do governo de Damasco - e, principalmente, o grupo terrorista Hezbolah.
O encontro de semana passada recebeu o nome de cúpula da "Jabhat al Mumana", a "Frente da Rejeição". O nome se torna ainda mais significativo porque a reunião ocorreu justamente poucos dias depois do anúncio de Washington de que voltaria a manter uma embaixada na capital síria após cinco anos. Em 2005, quando o ex-primeiro ministro libanês Rafik Hariri foi assassinado, os EUA deram o crédito pelo crime à Síria e, em protesto, retiraram seu embaixador do país.
A Síria decidiu simplesmente tratar o gesto americano como um sinal de derrota. Em nenhuma medida deu sinais de que retribuiria a atitude do governo Obama da maneira como os EUA gostariam: aproximando-se do Ocidente e afrouxando os laços com Mahmoud Ahmadinejad. O resultado foi exatamente o oposto. Bashar Assad tripudiou e fez tudo o que os americanos não queriam. Recebeu o presidente iraniano e o líder do Hezbolah e promoveu a festa das declarações antipacifistas.
"Com a ajuda de Alá, o Oriente Médio estará livre de sionistas e imperialistas", disse Ahmadinejad. Na verdade, não se trata de nenhuma novidade. A única forma de livrar a região dos sionistas é acabar com Israel, plano que o presidente iraniano já repetiu tantas outras vezes ter a intenção de pôr em prática.
O que me parece interessante é a nova tendência do conflito. As alianças serão reforçadas uma a uma antes das disputas políticas e militares.
EUA e Irã brigam pela Síria porque sabem de sua importância estratégica. Além de continuar a traficar mísseis para o Hezbolah no Líbano, é através de suas fronteiras que circulam jihadistas a caminho de combater as forças americanas no Iraque. Curiosamente, mas não pelos mesmos motivos, o Brasil é o próximo foco desta disputa. Estados Unidos e Irã - capitães dos blocos sunita e xiita, respectivamente - travam uma batalha de inteligência por novos e importantes aliados para o jogo de poder a ser decidido em encontros reservados de articulação política ou num combate militar que principalmente Barack Obama faz de tudo para evitar. Ou ao menos adiar.
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