segunda-feira, 8 de março de 2010

A diplomacia de Obama ainda não engrenou. Nem por aqui

Existe um enorme paradoxo que rege a atual política externa americana. Se, por um lado, o inegável carisma do presidente Obama sustenta uma boa dose de simpatia mundial aos Estados Unidos, por outro existe uma vaga e cada vez maior sensação de decepção sobre seu governo. Isso explica bastante do fracasso da visita da secretária de Estado, Hillary Clinton, a alguns países latino-americanos na semana passada.

Mas não é só isso. Ainda paira no ar uma aura de messianismo em torno do presidente dos EUA. Isso poderia abrir portas - houve tentativas, como o histórico discurso de aproximação com os muçulmanos realizado no Cairo, no ano passado -, mas o distanciamento de Obama das lideranças mundiais comuns é grande. Talvez não por culpa dele, mas principalmente por causa dos graves problemas internos que vem enfrentando desde que tomou posse.

O fato é que, por exemplo, Barack Obama é admirado por seus pares, mas ainda não conseguiu se aproximar profundamente deles, como identifica com correção o jornalista Jackson Diehl, do Washington Post.

"Até o momento, o presidente (Obama) parece não contar com amigos genuínos no exterior. Neste ponto, ele é oposto a George W. Bush, odiado pelas massas no cenário internacional, mas que construiu laços de proximidade com uma série de outros líderes mundiais", escreve.

Esse é um aspecto curioso da administração Obama, muito embora o que de fato explique seu isolamento internacional é a tentativa de reverter fatos consumados. Por exemplo, a visita da secretária Hillary à América Latina manteve um padrão americano que já não pode mais ser aplicado no continente. Como lembra Michael Shifter, da Foreign Policy, entre a década de 1990 e o início do século 21, havia uma série de Estados fragmentados e dependentes dos EUA. Hoje existe bem ou mal uma tentativa de tomada de decisões conjunta e as economias do sul se encontram num momento infinitamente melhor que o daquela época.

Para completar, a Guerra ao Terror não permitiu a Washington um envolvimento maior com os vizinhos de continente. Assim, além de estar ausente, a Casa Branca não conseguiu realizar uma leitura básica das expectativas latino-americanas. Ou seja, errou na crise de Honduras e, principalmente, no momento escolhido para ratificar o plano de cooperação militar com a Colômbia. Diante do histórico de intervenções americanas, os EUA podiam ter evitado mais este desgaste. Pelo menos neste momento.

A frieza da recepção a Hillary Clinton em Brasília se enquadra neste histórico. Como se pretende representante dos latino-americanos, o Brasil simplesmente reproduziu um temor dos países do continente ao não concordar com as sanções ao Irã. Os países latinos ainda guardam na memória as sucessivas práticas de serem chamados a opinar nos organismos multilaterais apenas quando os desenvolvidos precisam de número para aprovar suas próprias decisões políticas.

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