sexta-feira, 19 de março de 2010

Com a cara de Obama

Nesta sexta-feira, os atuais "donos do processo de paz", como classificou o presidente Lula, estão reunidos em Moscou, na Rússia. Além dos anfitriões, EUA, ONU e União Europeia emendam uma série de reuniões para discutir o Oriente Médio. O primeiro resultado foi uma uníssona condenação das novas construções israelenses em Jerusalém e da expansão dos assentamentos na Cisjordânia.

Curiosamente, apesar do recente abalo nas relações entre Estados Unidos e Israel, pesquisa divulgada hoje pelo jornal Haaretz mostra que os israelenses não consideram o presidente Obama inimigo do país. O episódio do desastrado anúncio das construções na presença do vice-presidente americano, Joe Biden, praticamente polarizou a opinião pública israelense. Quase metade dos entrevistados, 48%, disse acreditar que o governo deve continuar a construir em Jerusalém; 41%, entretanto, consideram que a demanda americana de congelar novos empreendimentos na parte oriental da cidade deve ser levada em conta.

Ou seja, o desgaste entre Washington e Jerusalém está caminhando como Obama pretendia. Não é por acaso que a Casa Branca decidiu levar adiante o maior desentendimento com Israel nos últimos 35 anos. É preciso uma rápida análise sobre o assunto.

Não é segredo nos bastidores na capital dos EUA como Obama e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não se entendem. Além do presidente americano já ter deixado claro a assessores não acreditar nas intenções pacifistas de Bibi, é preciso voltar mais ainda no tempo. Primeiro, uma parada na campanha presidencial americana, quando um dos pontos que levaram à comoção mundial em torno da "mudança" prometida foi justamente um maior comprometimento e assertividade nos diálogos de paz no Oriente Médio.

Obama pessoalmente acredita que Benjamin Netanyahu seja um dos principais entraves à retomada das negociações. Mais um pulo no tempo e vamos até 2005, ano que o então primeiro-ministro, Ariel Sharon, conseguiu aprovar a retirada de todas as colônias judaicas de Gaza. Para isso, deixou o Likud – de Benjamin Netanyahu, não por acaso – e criou o Kadima, legenda que tinha como uma de suas principais plataformas o pragmatismo para resolver a situação de uma vez por todas.

Agora, retornando ao presente, o que Obama tem em mente para retomar o processo de paz da maneira como imagina, ou seja, com Netanyahu menos poderoso? Ele tenta criar uma atmosfera de racha entre Washington e Jerusalém de forma a conseguir elevar o tom de críticas em Israel a ponto de forçar um recuo de Benjamin Netanyahu. Assim, para mostrar boa vontade e baixar o tom, Bibi seria forçado a incluir Tzipi Livni, líder do Kadima, em sua coalizão governamental. Para Obama, com Livni de volta ao governo, aí sim as negociações com os palestinos seriam retomadas. Da maneira como a Casa Branca espera, claro.

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