No próximo mês de maio, os colombianos vão às urnas para eleger o novo presidente do país. Em meio ao conflito entre tropas governamentais, as Farc e traficantes de drogas, a explosão de um carro-bomba na cidade portuária de Buenaventura chamou a atenção pela raridade com que, felizmente, eventos desta natureza costumam se repetir na América Latina. O ataque terrorista deixa a certeza de que a situação na Colômbia representa um entrave no status pacífico do continente.
Ninguém assumiu a responsabilidade pelo atentado até agora. Muito embora as Farc sejam o alvo mais óbvio das suspeitas, autoridades colombianas admitem a grande possibilidade do grupo armado não ter nada a ver com o caso. Localizada na costa do pacífico, Buenaventura abriga o maior porto da Colômbia. Além das exportações legais, é de lá que saem também as grandes remessas de drogas para o México e, consequentemente, para o lucrativo mercado norte-americano.
As evidências recaem ainda mais sobre o tráfico de drogas porque o alvo do ataque foi justamente o escritório local da advocacia geral do país. Na semana passada, o governo impôs prejuízo considerável aos traficantes ao concluir grande apreensão de cocaína em Buenaventura.
Acho que a situação na Colômbia poderia ser uma oportunidade para as pretensões internacionais brasileiras. Além de ser um dos poucos governantes a manter boa relação com o criticado Álvaro Uribe, Lula só teria a ganhar se dedicando a apaziguar o conflito. Além de legitimidade internacional, afastaria críticos internos que nunca deixaram de levantar a bola sobre a simpatia do presidente às Farc.
Resolver um impasse grave e duradouro no país vizinho ganharia tanta relevância internacional quanto a libertação da ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt, resgatada numa operação espetacular em julho de 2008. Mas o Itamaraty ainda não se pronunciou sobre o atentado. De certa forma, penso que este tipo de atitude tira parte da credibilidade brasileira. Ora, se Brasília não mostra interesse num evento grave ocorrido logo ao lado, por que razão seria relevante contar com o país na resolução dos conflitos no Oriente Médio?
O Brasil poderia ocupar papel central na crise da Colômbia. A diplomacia brasileira não se pronuncia sobre o atentado no país vizinho por conta da decisão de Uribe de permitir que os militares americanos usem suas bases. O gesto gerou grande polêmica na América do Sul durante o ano passado e acabou resultando numa condenação uníssona da aliança entre Bogotá e Washington.
O problema é que isolar a Colômbia é uma medida contraditória em relação ao Irã, por exemplo. Não creio que o Brasil queira deixar o governo de Bogotá de fora da comunidade internacional, mas simplesmente não parece ter a intenção de se envolver profundamente no problema. E esta é uma situação confortável, até porque evita confrontos ideológicos e explicações a aliados como Cuba e Venezuela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário