
Acho que o país pode contribuir com isenção. Esta característica é fundamental para intermediar conversações entre as partes. Contando com o enorme capital de simpatia de que dispõe no cenário internacional e no Oriente Médio, o Brasil pode, sim, ser um interlocutor considerado legítimo. Por isso, penso que manter a equidistância entre Israel e Autoridade Palestina é a única possibilidade viável de atuação.
Muito além de ser um princípio justo a se defender, a isenção mantém o caráter pragmático da diplomacia brasileira. Sem ela, simplesmente o país vai ser descartado de qualquer mesa de negociações. Por que mais um ator seria incluído se ele já estivesse comprometido com um dos lados? Não faria qualquer sentido. É exatamente isso que pensarão os membros do Quarteto (grupo formado por ONU, União Europeia, EUA e Rússia para tocar o processo de paz).
Acredito que a estratégia de aproximação com o Irã tem dois lados. Se, de certa maneira, acaba tornando o Brasil um ator no foco das discussões internacionais, ela pode provocar um revés. O país pode acabar de tal forma identificado com Teerã a ponto de descredibilizar uma eventual participação justamente nas conversações entre Israel e Autoridade Palestina.
Não me parece que, até o momento, o governo brasileiro tenha pensado alguma solução criativa para a situação de impasse entre israelenses e palestinos. Não acredito que o Itamaraty mantenha na manga uma carta capaz de, ao mesmo tempo, tornar possível um Estado palestino desmilitarizado, convencer Israel a retornar às fronteiras de 1967 e definir as questões demográficas que atravancam a assinatura de um acordo definitivo.
É exatamente por tudo isso que o Brasil não pode se arriscar a perder a legitimidade diante de qualquer um dos atores envolvidos. É na isenção que estão depositados todo o valor e as ambições que o país tem a oferecer. Essa é a única plataforma sobre a qual Brasília pode se apoiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário