Dando continuidade ao assunto discutido ontem por aqui, acho importante dizer que se houver uma franca oposição de interesses entre Brasília e Washington sobre o programa nuclear iraniano, não acredito que o Brasil será isolado pelos Estados Unidos. Ao contrário de Cuba, por exemplo, os índices econômicos e industriais brasileiros não podem ser ignorados. Mas também penso que este não é o objetivo do Itamaraty ao insistir numa suposta - e ilusória - viabilidade de um Oriente Médio onde o Irã se transforme numa potência atômica.
Dos membros rotativos do Conselho de Segurança da ONU, Brasil, Líbano e Turquia são os que têm causado mais dor de cabeça aos EUA. Brasil e Turquia são dois dos principais representantes dos países emergentes, com uma leve vantagem brasileira - por conta de indicadores populacionais e também devido à posição única do país de quase total equidistância em relação aos demais Estados.
"O Brasil mantém boas relações com todos os países. Lula pode ser o único líder a ter abraçado George W. Bush e seu desafeto Hugo Chávez", menciona matéria publicada hoje no Wall Street Journal.
Uma das explicações para a política independente brasileira é essa mesmo. Mas não se trata apenas de fazer amizades. Como escrevi ontem, o pragmatismo pretende se traduzir em vantagens e livre acesso do país aos principais fóruns internacionais, como já vem acontecendo.
Ao se colocar em desacordo com os EUA no desafio mais complexo que a Casa Branca enfrenta no momento, o Itamaraty ao mesmo tempo atinge dois de seus principais objetivos: chama atenção do mundo desenvolvido e se coloca como o principal representante internacional do grupo dos países não alinhados.
Três fatores acabam impulsionando a posição brasileira: a sorte de Lula de essa grande discussão sobre o programa nuclear iraniano ter aparentemente chegado a seu auge justamente quando o Brasil ocupa um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU; a ascensão política e econômica que credencia o país a ser convidado para qualquer fórum internacional; e a ausência de concorrência ao Brasil, já que mesmo os chamados BRICs estão ocupados com questões mais importantes neste momento.
Mais um ponto interessante também foi abordado pela reportagem do WSJ para explicar a posição única brasileira: o Brasil é o único dentre os BRICs que não possui a bomba atômica.
2 comentários:
Ótima análise. Acho que você conseguiu matar a charada do Itamaraty.
Abs,
Tiago
Obrigado, Tiago. Fico feliz que tenha gostado. É sempre um desafio muito interessante tentar entender os motivos que levam países a não tomar as decisões que parecem as mais óbvias. Este caso da relação entre Brasil e Irã é um clássico.
Grande abraço!
Postar um comentário