Interessante ver como o jogo geopolítico está tomando forma no Oriente Médio. O conflito entre israelenses e palestinos é apenas uma batalha da grande guerra em curso. Nesta semana, além da visita do vice-presidente, Joseph Biden, o secretário de Defesa americano, Robert Gates, foi protagonista de um fato curioso na região. Ele e o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, estiveram no Afeganistão. Na quarta-feira, ambos estavam no país, mas em lugares diferentes.
A situação atípica levantou uma série de boatos, inclusive de que negociariam com o presidente afegão, Hamid Karzai, um acordo tríplice – possibilidade já negada formalmente pela Casa Branca.
Irã e Estados Unidos estão em franca disputa diplomática. A visita de Ahmadinejad pode ser interpretada como uma provocação a Washington.
Aliás, se bem ou mal Ahmadinejad mostra certa coerência quando discursa no exterior e mantém suas posições radicais, o mesmo não se aplica a Hamid Karzai. Ele nem sequer argumentou ou contestou o presidente iraniano quando este afirmou, em solo afegão, que os esforços americanos no país irão falhar.
Ora, o raciocínio não é muito difícil neste caso. Se os EUA falharem no Afeganistão, o Talibã retoma o poder e o próprio Karzai é destituído do cargo. Para ser claro, é muito provável que, imaginando um cenário de derrota americana e fuga da coalizão ocidental, Karzai seja morto pelos radicais.
A ansiedade iraniana por assistir a uma vitória talibã mostra também um dado importante. Ao contrário do que suas lideranças costumam afirmar, a política externa do país está longe de ser baseada em preceitos ideológicos de resistência cultural, religiosa, econômica ou qualquer que seja. A atuação no Afeganistão revela bem o realismo que cerca as decisões de Teerã.
O Irã apoia logisticamente o Talibã, grupo radical sunita – ao contrário do Irã, xiita –, deixando claro que o objetivo final do país é se tornar a potência hegemônica regional e obter legitimidade no mundo muçulmano como o país que detém a capacidade de desafiar o ocidente. Para isso vale até apoiar e transferir armamento para os sunitas do Talibã e do Hamas.
O único que fez papel de bobo nisso tudo foi o presidente afegão. Além de servir de “escada” para Ahmadinejad, ficando em cima do muro, ele acredita que poderá receber apoio dos dois lados. Mas cedo ou tarde ele será chamado a fazer sua escolha. Aliás, no caso desta figura em particular, a escolha é apenas pessoal, já que o comando do país, pelo menos por ora, ainda depende dos resultados da disputa entre seus inimigos talibãs e da coalizão ocidental - responsável mesmo por inventá-lo como líder político do Afeganistão.
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