Algumas informações talvez sejam capazes de explicar, em parte, a confusão instalada na agenda internacional europeia. Em primeiro lugar, vale relembrar que, depois de meses de isolamento, a UE decidiu tomar conhecimento de que existe um mundo lá fora. Como lugar-comum está sobrando, o ponto de partida escolhido para marcar a atuação externa foi, pra variar, o Oriente Médio. E o conflito árabe-israelense, claro.
A desconhecida Catherine Ashton (foto), alta representante para assuntos internacionais do bloco, esteve em Egito, Líbano, Síria, Israel e territórios palestinos – inclusive em Gaza, controlada pelo Hamas. A visita gerou um artigo no New York Times. No texto, ela conta suas experiências na região, relata encontro com representantes do terceiro setor e lideranças políticas.
"A União Europeia expôs sua posição numa declaração de princípios divulgada em dezembro. Uma solução de dois Estados com Israel e Palestina lado a lado em paz e segurança. Um Estado palestino viável na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e na Faixa de Gaza, com base nas fronteiras de 1967. Uma maneira deve ser encontrada de forma a resolver o status de Jerusalém como futura capital de ambos os países. Precisamos de uma solução justa para a questão dos refugiados", escreve.
Ou seja, por mais que Ashton tenha descrito as posições europeias sobre o conflito entre Israel e os palestinos, ela não acrescenta absolutamente nada novo. Pelo contrário. Simplesmente relata mais uma vez os problemas que todo mundo já conhece.
Muito além da pouca experiência em assuntos internacionais, talvez Catherine Ashton tenha se tornado refém do principal mecanismo europeu de relações externas: o Tratado de Lisboa. Aprovado em dezembro do ano passado, o acordo demorou bastante para ser implantado, além de ter gerado um enorme desgaste entre os países-membros. Sua aprovação era vista como fundamental para, entre outros aspectos, criar uma política internacional comum entre os Estados da UE. Mas a verdade é que, na prática, o Tratado criou tantos cargos que fica difícil entender quem de fato é o responsável pela palavra final.
Vale discriminar os principais atores que, além de Ashton, costumam palpitar nos assuntos internacionais do bloco: Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu; o primeiro-ministro europeu, José Luis Zapatero, presidente atual do Conselho do UE; e Jerzy Buzek, presidente do Parlamento Europeu.
Ou seja, quem de fato responde pela política externa europeia? Esta é uma pergunta que permanece sem resposta até mesmo internamente. Se Cathy Ashton quiser entrar no jogo internacional, terá que primeiro deixar claro se é mesmo ela a responsável por definir as posições do continente. Por enquanto, tudo leva a crer que ela é simplesmente a menos poderosa entre esses nomes citados.
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