segunda-feira, 29 de março de 2010

Atentados em Moscou: depois da tragédia, oportunidade para Putin

Ainda há uma enorme sensação de confusão em torno dos atentados cometidos hoje no metrô de Moscou. O terrorismo nunca deixou a região, e os trilhos da capital russa já testemunharam outros quatro ataques - o mais recente em novembro do ano passado. Os indícios apontam as maiores suspeitas de autoria para os rebeldes chechenos, mas há algo de curioso nos acontecimentos desta segunda: terroristas não costumam se esconder por trás dos atos que cometem, muito pelo contrário.

Grupos que usam métodos terroristas têm orgulho de concretizar suas ações. Normalmente, eles mesmos tomam a iniciativa de procurar os meios de comunicação e reivindicar a autoria. Muitas vezes, inclusive, grupos distintos brigam entre si para assumir a realização de um ataque. Não haveria por que ser diferente agora.
Talvez o líder rebelde checheno, Doku Umarov, tenha adotado o silêncio como estratégia para ganhar tempo e se esconder. Afinal, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, deixou claro que a reação de Moscou não será branda. "Os terroristas serão destruídos", disse em resposta aos atentados. Ou seja, a Rússia deve agir com a mesma delicadeza de sempre quando o assunto é responder ao terrorismo.
Em 2004, na Ossétia do Norte, uma escola em Beslan foi sequestrada por rebeldes chechenos. O exército russo matou todos os terroristas, mas também foram mortos 334 reféns, 186 crianças. Curiosamente, as críticas internacionais recebidas por Putin formam boa parte do seu capital de simpatia interno. Ex-membro da KGB, ele é admirado pelo perfil disciplinador, rigidez e combatividade, mesmo quando é um dos responsáveis diretos por desastres como Beslan.
Os atentados de hoje certamente vão elevar o tom na disputa com a Chechênia, república separatista que deseja se tornar independente e aplicar a sharia (a lei islâmica) aos seus habitantes - uma espécie de Irã encravado no Cáucaso. O primeiro-ministro Putin vai receber carta branca da opinião pública para agir como bem entender. Já sabendo disso, Umarov está em fuga. Mas não deve escapar. Afinal, se Putin não se envergonha de silenciar opositores legais, não será puritano ao caçar os responsáveis por atos de barbárie como os de hoje.
Como todas as agências de notícias e jornais internacionais têm informado, muito possivelmente os atentados desta manhã tenham sido realizados por mulheres. A motivação feminina pode ser em parte explicada pela própria ofensiva russa na Chechênia, quando soldados russos não se contentam apenas em levar a cabo sua missão militar, mas parte deles é acusada de estuprar as chechenas. Muitas acabam se tornando voluntárias do terrorismo praticado pelos seguidores de Umarov.

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