terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Delírios de poder no Zimbábue

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, recusa-se a deixar o poder. Respondeu às críticas de Estados Unidos e Inglaterra à maneira como vem desgovernando o país chamando-os de burros e tolos. Num primeiro momento, as potências ocidentais sugeriram ao ditador que aceitasse dividir o poder com o não menos pior do que ele, o opositor Morgan Tsvangirai.

Mas o processo empacou na disputa pelos ministérios mais importantes e não foi adiante. Como Mugabe gosta de retórica, disse que a epidemia de cólera simplesmente não existe. Porém, até o momento, mais de mil pessoas morreram. As agências de assistência que operavam no país estimam que a doença ainda deva atingir outras 60 mil pessoas.

Da parte de Mugabe, no entanto, sobram palavras vazias. Sobre a pressão internacional para que deixe o governo, respondeu com o que costumo chamar de “patriotada” – algo muito apreciado nessas nossas paragens.

“Obviamente, não vamos dar atenção a uma administração que está se despedindo (em menção ao governo Bush). O destino do Zimbábue está nas mãos do povo do Zimbábue”, disse.

Para o governo americano, o presidente Mugabe simplesmente perdeu o contato com a realidade. Recentemente, depois de finalmente admitir a epidemia de cólera, declarou que a doença havia sido disseminada pelo ocidente com o propósito de derrubá-lo.

Nesta segunda-feira, numa decisão controversa internamente, os Estados Unidos deixaram de dar qualquer suporte ao Zimbábue. Washington se mostrara disponível a ajudar o país a obter junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial o perdão de seus 1,2 bilhões de dólares em dívidas.

Mas as autoridades americanas voltaram atrás quando Mugabe desistiu de dividir o poder. Agora, a diretriz é normalizar as relações com o Zimbábue somente se ele deixar o cargo.

O grande problema é que, enquanto esta legítima pressão é exercida, a população do país sofre conseqüências gravíssimas. Um relatório da ONU mostra que de cada dez pessoas, sete não comeram nada ou fizeram somente uma refeição no dia anterior.

Graças aos programas de ajuda humanitária dos EUA e das Nações Unidas, a população do Zimbábue foi minimamente alimentada no último mês. O país é absolutamente dependente de ajuda internacional, mas, mesmo assim, de junho a agosto, Mugabe expulsou os organismos humanitários alegando também que eles apoiavam Morgan Tsvangirai.

Desde 2002, a ajuda em alimentação já alcançou a cifra de 1,25 bilhões de dólares. A situação é crítica e, como sempre, é a população pobre que irá pagar com a própria vida. 

“Dominada pelas quase três décadas de governo Mugabe, a população do Zimbábue hoje enfrenta o sétimo ano seguido de fome. Esta crise humanitária – agravada por secas e chuvas ocasionais – se tornou ainda pior por conta de políticas agrícolas catastróficas, colapso econômico crescente e um partido dominante que usa terra e comida como armas em sua – até o momento bem-sucedida – luta por permanecer no poder”, escreve no The New York Times a jornalista Célia W. Dugger. 

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